Tudo isso junto de uma vez só: - teses.musicodobra...
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Segundo Jovino, a linguagem harmônica <strong>de</strong> Hermeto não se resume, mas se baseia quase<br />
totalmente, em estruturas triádicas superpostas <strong>de</strong> maneira não funcional. Jovino levanta a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste procedimento harmônico ter se originado da sanfona <strong>de</strong> oito baixos<br />
(também chamada no nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> pé <strong>de</strong> bo<strong>de</strong>), que foi o primeiro instrumento do<br />
compositor alagoano <strong>de</strong>pois das flautas <strong>de</strong> galho <strong>de</strong> mamona e dos pedaços <strong>de</strong> ferro<br />
percutido. A pé-<strong>de</strong>-bo<strong>de</strong> possui dois sistemas <strong>de</strong> botões. O primeiro sistema produz notas e<br />
serve para o instrumentista executar melodias. O segundo sistema <strong>de</strong> botões produz acor<strong>de</strong>s<br />
maiores, menores e dominantes, que servem para o acompanhamento. Por não ser<br />
cromática, a sanfona <strong>de</strong> oito baixos não possui todos os tons, sendo por <strong>isso</strong> um<br />
instrumento bastante limitado. Jovino nos relata que, na infância <strong>de</strong> Hermeto, este ia para o<br />
“monturo” (o ferro-velho) <strong>de</strong> seu avô ferreiro e, batendo nos diferentes pedaços <strong>de</strong> ferro,<br />
procurava suas notas fundamentais na sanfona, bem como os harmônicos que estas<br />
produziam. (Lima Neto 1999: 6 e 7)<br />
A partir <strong>de</strong>ssas experiências Hermeto elabora “<strong>uma</strong> linguagem harmônica<br />
parcialmente baseada em tría<strong>de</strong>s, as quais ele superpõe <strong>uma</strong>s às outras, gerando<br />
agrupamentos verticais <strong>de</strong> maior ou menor complexida<strong>de</strong> e tensão intervalar” (Lima Neto<br />
1999: 9). Segundo Jovino, ele teria <strong>de</strong>senvolvido esse sistema a partir da exploração <strong>de</strong><br />
sons do cotidiano (principalmente os ferros percutidos) e a tentativa <strong>de</strong> adaptar esses sons a<br />
seu primeiro instrumento “convencional”, <strong>uma</strong> sanfona <strong>de</strong> oito baixos. Explorando o<br />
instrumento, Hermeto acaba por <strong>de</strong>senvolver um jogo <strong>de</strong> superposições <strong>de</strong> tría<strong>de</strong>s.<br />
Simultaneamente, ele tenta reproduzir na sanfona as sonorida<strong>de</strong>s inarmônicas dos<br />
sons cotidianos, <strong>de</strong>senvolvendo também <strong>uma</strong> escuta ampliada. Dessa forma, ele teria<br />
iniciado seu idioma harmônico. Mais tar<strong>de</strong>, Hermeto continua <strong>de</strong>senvolvendo esse processo<br />
ao longo <strong>de</strong> sua carreira, seja na utilização recorrente <strong>de</strong> objetos e instrumentos não<br />
convencionais em shows e gravações, seja na busca <strong>de</strong> sons e harmonias não convencionais<br />
nos instrumentos utilizados em seu grupo: flauta, sax, teclados, baixo, bateria, percussão.<br />
A escuta <strong>de</strong> Hermeto <strong>de</strong>senvolve-se <strong>de</strong> tal forma que sua linguagem harmônica cria<br />
um universo próprio, recriado a partir da paisagem sonora que ele percebe no cotidiano.<br />
Configura-se aí um interessante exemplo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> paisagem sonora particular cujos<br />
elementos acústicos permitem a criação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> linguagem que associa timbre e harmonia.<br />
Investigando as relações entre espectros e escalas, Sethares (1997) dá o exemplo das<br />
orquestras <strong>de</strong> gamelan, da Indonésia, cujas escalas são diretamente correlatas ao espectro<br />
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