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Tudo isso junto de uma vez só: - teses.musicodobra...

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2. Festas e brinca<strong>de</strong>iras<br />

Não existe na música brasileira essa coisa que Olavo Bilac qualificou como resultado <strong>de</strong><br />

“três raças tristes”, pois até a reza-<strong>de</strong>-<strong>de</strong>funto (canto <strong>de</strong> velório, excelências e benditos) na<br />

interpretação do povo é alegre pela sua interpretação expansiva, natural, <strong>de</strong>sinibida.<br />

(Guerra-Peixe e Raposo 1984: 6)<br />

A alegria <strong>de</strong> que fala Guerra-Peixe está presente na música <strong>de</strong> Hermeto Pascoal. O<br />

baterista Nenê, que trabalhou durante <strong>de</strong>z anos com Hermeto, é quem diz: “É <strong>uma</strong> música<br />

impregnada <strong>de</strong> festas populares” (Nenê 2005). Ele cita o exemplo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> faixa do disco<br />

Brazilian Adventure, a música “Velório”, on<strong>de</strong> o compositor procura reproduzir os sons das<br />

festas que ocorriam por ocasião dos velórios em sua terra natal. Para <strong>isso</strong> utilizou matracas<br />

e sussurros, conforme as brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> sua infância.<br />

Com quase 70 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, lembranças não faltam a Hermeto, tal<strong>vez</strong> por <strong>isso</strong><br />

mesmo ele <strong>de</strong>fenda <strong>uma</strong> atitu<strong>de</strong> e <strong>uma</strong> música totalmente voltadas para o presente: “nunca<br />

me lembro do passado, ele já existe na gente. É <strong>uma</strong> energia que já vem com a gente, quem<br />

procura se lembrar do passado está per<strong>de</strong>ndo o presente praticamente todo” (Pascoal 2005).<br />

Assim é sua música, presente, atual, impregnada <strong>de</strong> festas e <strong>de</strong> vida, da sua vida e,<br />

por <strong>isso</strong> mesmo, <strong>de</strong> seu passado que se faz presente. Sua recusa do passado não é <strong>uma</strong><br />

recusa da tradição, mas <strong>uma</strong> <strong>de</strong>fesa contra os tradicionalistas. Afinal, sua criativida<strong>de</strong><br />

extrapolou as formações musicais pelas quais passou e, ao lado do aprendizado e da<br />

admiração pela cultura popular, há sempre <strong>uma</strong> recusa da estagnação.<br />

Mas Hermeto viveu sim várias formações musicais, tradicionais ou não. Este é um<br />

passado evi<strong>de</strong>nte em sua música, que se torna presente na criação. São vários fios <strong>de</strong><br />

cultura que vão se entrelaçando em sua obra, revelando <strong>uma</strong> música brasileira e, como ele<br />

quer, universal. Contar essa história é <strong>uma</strong> tentativa constante <strong>de</strong> equilibrar as vertentes <strong>de</strong><br />

arte e tradição.<br />

Começarei pela arte que já é tradição: as festas populares, os bailes chamados <strong>de</strong><br />

choros ou forrós, os gêneros, ritmos e formações musicais aí envolvidos. Tradição como<br />

<strong>uma</strong> manifestação que já é recorrente, envolvendo características que se repetem ao longo<br />

do tempo, que a tornam reconhecida pela comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se realiza e passível <strong>de</strong> ser<br />

generalizada como manifestação nacional.<br />

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