Tudo isso junto de uma vez só: - teses.musicodobra...
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aião, o forró... Estamos trabalhando em cima do maracatu que tem <strong>uma</strong> raiz forte na<br />
capital... Tem vários ritmos porque nós precisamos variar. (João do Pife 2005)<br />
João do Pife salienta a presença <strong>de</strong> choros compostos por ele e do maracatu, ritmo<br />
que vem sendo cada <strong>vez</strong> mais difundido pela mídia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Chico Science. Diante <strong>de</strong>ssa<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renovação, ele critica as bandas que, segundo ele, tocam sempre o mesmo<br />
repertório, há décadas: “eu conheço muitas bandinhas em Caruaru, esses senhores lá nos<br />
pés-<strong>de</strong>-serra... que ficaram naquele estilo <strong>de</strong> tocar novena, não procuraram, não se<br />
interessaram em ensaiar outro repertório” (João do Pife 2005).<br />
Hermeto acha o pife um “instrumento lindo” e as bandas “maravilhosas” mas, assim<br />
como seu João do Pife critica as bandinhas do sertão, ele também reclama: “Des<strong>de</strong> que eu<br />
nasci o repertório não mudou nada, está igual música erudita. Des<strong>de</strong> que eu me entendo por<br />
gente essa música do cachorro e da onça está a mesma coisa” (Pascoal 2005).<br />
A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renovação aparece na fala do músico, artista atuante no mercado<br />
musical. Mas, por outro lado, será essa <strong>uma</strong> tradição musical preservada no Brasil? A<br />
reclamação <strong>de</strong> Hermeto aponta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existirem no Brasil formações populares<br />
tradicionais sujeitas a se transformarem em música erudita ou culta porque fazem parte da<br />
cultura há séculos. Por outro lado, tanto a fala <strong>de</strong> seu João quanto a <strong>de</strong> Hermeto nos<br />
remetem à suposta fronteira entre “música folclórica” e “música popular” (que discutimos<br />
no capítulo 1), evi<strong>de</strong>nciando a diferença entre o contexto das festas e dos rituais e o<br />
contexto do rádio, dos shows e do disco. Enquanto, no primeiro, o valor principal seria a<br />
continuida<strong>de</strong>, a manutenção da tradição, no segundo, o valor seria a novida<strong>de</strong>, a<br />
transformação. A meu ver, não há que separar os dois contextos, mas sim mostrar que, na<br />
música <strong>de</strong> Hermeto, eles são complementares: é ele que transforma o palco em <strong>uma</strong> festa <strong>de</strong><br />
rua, da mesma forma que transforma a feira <strong>de</strong> Caruaru em um palco, conforme narrado por<br />
Ana Maria Bahiana (1980). Muitas bandas <strong>de</strong> pífanos também colocam em cheque essa<br />
distinção, ao se apropriarem do espaço do palco para a realização <strong>de</strong> suas brinca<strong>de</strong>iras e<br />
improvisações, em si bastante dinâmicas e criativas, contradizendo qualquer idéia <strong>de</strong><br />
tradição estática.<br />
Além <strong>de</strong> ter tocado pife em sua infância, Hermeto teve contatos recentes com duas<br />
bandas <strong>de</strong> pífanos bem conhecidas. Sobre a participação no show da Banda <strong>de</strong> Pífanos <strong>de</strong><br />
Caruaru, ele conta:<br />
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