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De repente, cessa meu delírio. Entra a junta de médicos em cena, seguidos de<br />
Pedro e sua linda mulher (uma Sônia Braga). Repórteres se estapeiam entre flashes.<br />
Empalideço de decepção. O laudo absolve Pedro da loucura. Segundo os médicos,<br />
Pedro é são como um iluminista. E tudo correu numa santa paz jurídica. Pedro falou<br />
como o homem mais calmo do mundo, iluminado pelo sorriso da esposa. Era o império<br />
da razão. Voz tranqüila, pausas corretas, educação européia, suaves respostas, sorrisos<br />
civis, tudo uma desesperante aula de lógica. O que me parecera um sadio suicídio da<br />
burguesia se imolando era apenas uma dissensão entre empresas. Pedro é um lúcido<br />
empresário com interesses contrariados. E o escândalo da sociedade civil é o melhor<br />
lobby para salvar negócios contrariados. Um moralismo afável, um discreto charme<br />
educado, um tranqüilo amor à verdade, falava da desgraça do Brasil, da derrocada do<br />
processo como um acidente de percurso inevitável talvez na prevalência da verdade, e a<br />
verdade era e é a igualdade de oportunidades entre o grupo do PC e o grupo Gazeta. O<br />
que me parecera um louco era apenas um lúcido businessman. Claro que talvez Collor<br />
tenha cantado Tereza, claro que talvez ele seja o Palhares (o que não respeita nem as<br />
cunhadas). Claro que pode haver inveja, infância traumática, Édipo, Orestes, Esaú, Jacó,<br />
tudo. Mas sinto dizer que acho que Freud não explica. Milton Friedman explica, talvez.<br />
Ana Luiza Collor disse que o "Brasil não é Alagoas". E Alagoas sim. E todos nós<br />
moramos longe, nós, a imprensa, os leitores, os espectadores desse drama burguês. Nós<br />
não temos nada com isso; olímpicos senhores disputam impérios e nós idiotas somos a<br />
caixa de ressonância. Tudo é tão longe de nós, os anéis de ouro de Tereza, os canaviais<br />
dos Lira, os dividendos dos Collor. Tudo é longe.Tudo poderia se resolver se, por<br />
exemplo, Roberto Marinho garantisse que a repetidora da Globo em Alagoas seguiria<br />
sendo dos Collor. O vento se amainaria nos canaviais. A razão voltaria a reinar. É<br />
grande a decepção. Pedro não é louco. Nem PC. Nem Collor, nem ACM. Nem<br />
Odebrecht. Loucos somos nós.