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ural que nos atinge há séculos como o mal de Chagas, ou o bócio. Esta loucura faz<br />

parte da irracionalidade arcaica brasileira, é lama do nosso tacho imemorial. Uma das<br />

causas principais é o que podemos chamar de patrimonialismo da alma. Ou seja, é o<br />

privado regendo o público no mundo psíquico. É o lado espiritual do latifúndio, é a aura<br />

fina, a anima do fisiologismo mais sutil que nos habita. Quando um Malta bate na<br />

barriga e suspira "Canapi sou eu!" isto é o patrimonialismo da alma. No<br />

patrimonialismo da alma (tese que eu lanço agora) não é o país que tem um presidente<br />

da República; é o presidente da República que tem o país. Não falo de "l'État c'est<br />

mói!" ou de ditadura; o país é uma coisa que os políticos conquistam por mérito, como<br />

uma medalha. O país o enobrece; ele não precisa enobrecer o país. O país é o clímax de<br />

seu processo existencial, o auge de sua carreira, o orgulho da mamãe, um prêmio<br />

Molière.<br />

O presidente traça um futuro ideal para o país e se este lhe falha ele se irrita ou<br />

fica carente, ou prende e arrebenta, ou fica abatido. O fracasso do país é a vergonha da<br />

mamãe.<br />

Itamar varia do irritado para o abatido.<br />

Tudo o que não é ele são forças ocultas. Os presidentes (e políticos) brasileiros<br />

não se sentem pessoas públicas; o país é que lhes atrapalha a vida privada. O país é que<br />

vira como que uma prótese de seus lares, de seus desquites, seus cornos, seus humores,<br />

sua sexualidade. Nós viramos um puxadinho de suas casas, viramos agregadinhos de<br />

suas cozinhas, como nos bons tempos das casas-grandes. Isto é o patrimonialismo da<br />

alma, ou o latifúndio do coração, ou a glândula colonial. E a culpa é do sistema secular<br />

de donatários.<br />

Irritado ou abatido<br />

A pior forma de solidão é a Presidência da República. Cento e vinte milhões te<br />

olham com fome de roubo ou de feijão. E nesta contemplação se esvai a imprensa, a<br />

opinião pública, todos nos esvaímos na expectativa de que tenhamos sorte e o<br />

"presidente seja bom!", como negros no algodoal, como mendigos do pátio, como fiéis<br />

da gruta de Fátima. O que o presidente come hoje? Quem o presidente comeu ontem?

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