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estragou a regra do jogo e por isso será punido severamente, como poucos o foram até<br />
hoje. O outro caso em que o real da Globo foi invadido foi a tentativa de seqüestrar a<br />
Xuxa por dois garotos loucos. Foram rapidamente exterminados. Um na hora, morto à<br />
americana, estilhaçado na rua; o outro, morto à brasileira, exterminado no hospital sem<br />
testemunhas. E não se falou mais nisso. Tanta é a repressão ao anormal no Xou da<br />
Xuxa, aquele pesadelo de sinistra inocência povoado de lourinhos e baixinhos onde o<br />
Mal não entra, que o Mal se excita e invade o paraíso. Guilherme está sendo expulso do<br />
paraíso da ficção e jogado no inferno do real. O sistema da miséria onde ele entrou<br />
agora tem celas sujas, Aids, estupro, e o policial dizendo que ele dormirá no chão por<br />
não haver colchonete. A precariedade das prisões fica legitimada, como uma espécie de<br />
pré-punição social, antes cio julgamento.<br />
Crime narrativo<br />
A narrativa do mundo da TV tem a finalidade de expulsar o imprevisto dos<br />
roteiros. A novela tem de banir a sujeira do incontrolável para fora das telinhas. Toda a<br />
luta do cinema moderno foi pela inclusão do sujo, pela inclusão do não-linear na<br />
narrativa. A novela da Globo luta para manter a vicia excessiva fora do ar. Guilherme<br />
rompeu a estrutura dramática do texto. Guilherme invadiu a novela e fez dela uma<br />
paródia, uma peça de cinema moderno. Guilherme transformou a novela em<br />
metalinguagem. Um dos crimes de Guilherme foi invadir a vida virtual da Globo com a<br />
vida real. Seu crime acabou com a linearidade aristotélica. Tudo dá sempre certo nas<br />
novelas. Tudo tem princípio, meio e fim. Guilherme interrompeu o meio. A Globo não<br />
pode imitar a vida. A vida é que tem de imitar a Globo. Assim, a vida tem de ser<br />
reescrita. Mais que um julgamento, para além da ira justa, do clamor de vingança, estão<br />
todos reescrevendo o texto. Nem os advogados têm coragem de desafiar a narrativa do<br />
melodrama das oito. Ousem trazer novos fatos, mais contradições, que os dramaturgos<br />
reclamarão. "Não queremos mais realismo!" clamam todos: "O final já está escrito!"<br />
Todos sabemos o final.