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"Para onde vão os atores depois de fazer um filme pornô? Onde moram? Com<br />

quem? Eles amam?"<br />

Certamente, digo a ele, muitos têm família, filhos, namorados... "É... mas eles<br />

ostentam uma liberdade intolerável, que ninguém tem. A auto-suficiência dos atores de<br />

pornô é intolerável. Ninguém é tão livre!" me diz José Maria. O filme pornô quer nos<br />

enganar com a liberdade dos atores. Depois da excitação, ficamos tristes. Por quê? Por<br />

inveja? Por humilhação? Ou porque o filme pornô não deixa nada a desejar. A<br />

satisfação é tão completa que dá angústia de morte. Digo a José que os atores pornôs<br />

não querem iluminar nosso mundo; querem que nós entremos para o mundo deles. Eles<br />

nos mostraram tudo, até o interior de seus ânus e suas vaginas. Só não nos mostram suas<br />

fragilidades, seus medos. Mostram tudo, para não mostrar nada.<br />

Ouvindo isso, José Maria me diz que, mesmo sob a luz de cozinha dos filmes<br />

pornôs, a fotografia com luz cirúrgica, mesmo ali, pintam muitos momentos de<br />

transcendência. E realmente, o frágil humano só aparece por acaso no filme pornô.<br />

Aparece num rosto juvenil, num tremor de medo, num lábio de atriz, num pau que fica à<br />

meia-bomba de um ator mais tímido. Na meia-bomba está toda a humanidade. A Arte<br />

sempre pinta no pornô-filme, quando menos se espera.<br />

De repente, Linda Lovelace termina um felatio de dez minutos, com a garganta<br />

profunda tomada pelo maior pênis do mundo, e ergue o rosto livre para a câmera,<br />

coberta de lágrimas e esperma como uma heroína santificada. É dos grandes doses da<br />

história do cinema, lembra os primeiros planos da Paixão de Joana d'Arc de Dreyer,<br />

com uma Falconetti pornô na cruz de um pênis gigante.<br />

De repente, a imensa beleza dos corpos juvenis também brilha além da ação; os<br />

corpos exibem uma vida mais bela que a performance que tanto os inflama. "Como a<br />

beleza de Jeanne Fine", diz baixo o José Maria.<br />

De repente, explode na tela uma das maiores cenas que tenho visto no cinema.<br />

Um homem sozinho num motel ama uma boneca inflável, com todas as tonalidades do<br />

amor: com afeto, com carinho, com desespero, com ódio. A boneca responde a cada<br />

gesto seu, numa reação de espelho a cada tremor do homem. E ele fala com a boneca,<br />

grita com ela, bate nela, e o desamparo da boneca sem vida aumenta o desespero do<br />

sujeito que vai entrando em delírio e espancando a mulher de látex. E se ilumina uma<br />

necrofilia, se ilumina a brutal solidão do amor, num crescendo de desespero que termina<br />

com o orgasmo do homem sozinho que cai chorando no corpo inerte da mulher. Sem<br />

querer o símbolo invade a coisa e fica clara a luz de que a relação sexual total é

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