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O crime real não cabe no<br />

horário nobre<br />

Os assassinatos da realidade têm de ser reescritos para não estragara nossa<br />

infinita fome de mentiras.<br />

Há dois tipos de criminosos: os sujos e os limpos.<br />

Os criminosos sujos (os pobres, os loucos) provam a obviedade de um sistema<br />

de miséria. Servem para alimentar uma sociologia da tragédia social do tipo: "A miséria<br />

leva à loucura que leva ao crime" (sociologia de esquerda). Servem também para a<br />

sociologia de direita: "Ohhh! Tem mais é que extirpar estes tumores!" ou "Tem de<br />

linchar! Sem pena de morte não dá!" como dizem tantos, liderados pelo Amaral Neto.<br />

(Amaral Neto é pela pena de morte para não ser enforcado, para deixar bem claro que<br />

nada tem a temer.)<br />

Já os criminosos limpos atingem uma outra verdade mais oculta. São um<br />

estilete que fere parte intocada de nossa razão. O criminoso sujo mata por fome ou<br />

loucura. E útil para confirmarmos uma visão negativa do mundo onde não estamos. O<br />

sujo nos exclui; já o limpo nos inclui. O criminoso limpo nos provoca vertigem e crise.<br />

Mata por escolha. O criminoso sujo nos justifica e absolve. O criminoso limpo nos<br />

acusa. O criminoso sujo afirma nossa lógica. O criminoso limpo nos enlouquece.<br />

Realidade paralela<br />

O caso Guilherme de Pádua veio tocar no nervo do mais bem-cuidado tumor da<br />

nacionalidade: a anormalidade da vida normal, bem-sucedida, de hoje. Veio tocar na<br />

função máxima da Globo: manter uma normalidade integrativa da vida nacional, manter<br />

viva uma realidade paralela estável num país em derrocada. A Globo preserva a mistura

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