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labirinto de traços), a trama da burocracia comprada? Quem, Raymundo Faoro, aquele<br />
puxa-saco do Max Weber? Não! Eu! Eu ensino. Eu escrevo com meu corpo! (Sorriu,<br />
gostou da frase.) Eu explico nos jornais! Quem mostrou como é a lavagem de dinheiro<br />
em Miami? Quem? A polícia? A CPI? Quem? Os donos de banco, que fazem isto o dia<br />
inteiro? Não! Eu! PC, o didata!"<br />
Lá fora, a voz de ACM se fez ouvir no alto-falante: "Paulo César, aqui é o<br />
Antônio Carlos Magalhães, o presidente... Quero que você se acalme, homem de Deus...<br />
eu negociei uma saída jurídica para você... uma solução...você se entregue, meu amigo,<br />
tudo vai se normalizar!"<br />
PC me olhou maligno como quem diz "Está vendo?" Sua resposta foi uma<br />
corrida à janela e mais uma rajada da Uzi. Sirenes e gritarias lá fora. Balas estilhaçaram<br />
o lustre de cristal e fomos cobertos por uma chuva de cacos brilhantes. "As estrelas<br />
caem...", sorriu filosófico o PC. Tive um aperto de emoção por aquele Ricardo III à<br />
minha frente, aquele alagoano-shakespeariano.<br />
"Diga-me (ele fraquejava com a perda de sangue), diga-me, quem mostrou a<br />
ligação entre Estado e empresários como eu? Quem tornou arcaica toda a visão de<br />
mundo das esquerdas sobre o país? Achavam que bastava o eterno esquematismo das<br />
classes, da injustiça? Quem ensinou ao PT o caminho de Miami, do leasing, do money-<br />
washing, de Barbados, quem mostrou o que fazem os big people, comprando e<br />
vendendo títulos da dívida, quem? Fernando Henrique? Weffoit? Não! Este título<br />
ninguém me tira! E me chamam de canalha? Eu sou a luz..."<br />
Eu tremia. Estava diante de uma mutação histórica. Pensei em Sérgio Buarque<br />
de Holanda e nas raízes do Brasil. Lembrei do homem cordial, o sinistro pai da<br />
corrupção amiga, e vi que PC era a subversão do conceito.<br />
PC agora sussurrava com um travo de dor na voz. Ele emagrecera e suava<br />
muito; uma lente de seus óculos de ouro se partira numa teia de aranha de vidro. "Meu<br />
querido (por que a ternura com o jornalista?)...; ouça... eu provei a vocês que o sistema<br />
não serve (um pouco de sangue escorreu de seu lábio). Eu provoquei a falência do<br />
bonapartismo como um regime louco... Eu acessei aos jovens a contemplação de um<br />
teatro de absurdo insuspeitado antes... Eu introduzi a ilógica na visão social arcaica e<br />
positivista... eu modernizei a análise política... Eu acabei com o discurso linear dos<br />
moralistas acadêmicos. Sim, Collor ajudou, mas ele seria apenas um neo-udenista típico<br />
sem a contribuição milionária de todos os meus erros. E, mais que tudo, quem