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muito "deles... deles... deles". Todo o mal do Brasil é culpa deles. O mundo e o país<br />
estão sendo destruídos por eles. Até que o americano não agüenta mais de curiosidade e<br />
pergunta: "Who are they?" (Quem são eles?) Meu amigo pára, travado. Quem serão<br />
eles? Aí descubro o óbvio triunfal. Eles são os outros. São as forças ocultas que<br />
desculpam nossa omissão. Grande categoria descobri: eles. Todos nós falamos da<br />
desgraça nacional como se fosse feita por outros, seres impalpáveis que são<br />
responsáveis por tudo. Eles podem ser o governo, o operariado, os americanos, os<br />
jornalistas, até os judeus talvez...Todos, menos nós.<br />
As refinadas formas de ignorar<br />
Vou pela rua morta da madrugada paulista, atrás de outro táxi (outro paraíba<br />
rirá de mim?). Perfeitos mendigos se colam nas vitrinas da Oscar Freire, bem ajustados<br />
nas fachadas menfis. Como ficou antiga esta visão de contrastes. Outrora nos chocava<br />
ver a miséria grudada na fartura... Tanto Brecht, tanto... Hoje apenas banalizam nossa<br />
elegância. O desgraçado dorme na porta da Fit. Fitness. Misfits? Deus, como dá para<br />
produzir ilações ricas, como a miséria é fecundante. A miséria é útil para criar assuntos,<br />
textos. A pobreza está voltando às pautas porque não está dando para ignorar mais. Há<br />
uma grande produção de grades, porteiros eletrônicos, alarmes, seguranças. Assim<br />
como se sofisticam os mecanismos de proteção nos prédios, se refinam as formas de<br />
ignorar a decadência da cidade.<br />
A elegância é uma forma de violência<br />
São Paulo é leito uma cebola. Não é apenas a Bélgica da Belíndia. É uma<br />
cebola de bélgicas cada vez mais fechadas, mais finas.<br />
Agora estou diante da elegância absoluta. A mulher que me fala sabe tudo.<br />
Inteligentíssima, está toda hora nas colunas, nos olhando de dentro, como se estivesse<br />
atrás de um cristal.<br />
"A elegância é uma forma de violência", me diz com um corselete de Kenzo.<br />
"Miséria também é cultura. Tanta é a evidência do absurdo do mundo atual que não dá<br />
para excluir do teu universo culto uma posição progressista. Na época em que o<br />
socialismo vago e imaginário era a panacéia para nossos problemas, todos éramos