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engata no penis B, que gira em engrenagens de vaginas dentadas B, que fazem explodir<br />

orgasmos eletrônicos em todas as direções. São mecanismos, órgãos sem corpo. Que<br />

compulsão é esta de tudo mostrar? Que sol, que neon, que luz fluorescente tem de<br />

apagar todas as sombras, todos os segredos, excluindo qualquer perspectiva de futuro ou<br />

passado?<br />

A frase revolucionária 'É proibido proibir' foi cooptada pelo show permissivo<br />

burguês. Hoje a proibição da proibição é a liofílização da liberdade. Há uma liberdade<br />

de mercado que produz um mercado da liberdade que estimula o ato gratuito, nas áreas<br />

não-essenciais da produção, é claro.<br />

Pela ilusão da desrepressão, temos uma grande prisão sem grades. O sexo que<br />

foi usado na luta contra a caretice da vida burguesa é hoje a glorificação de sua vitória.<br />

Lembro-me de uma expressão de Marcuse: "De-sublimação repressiva". Só há isso nos<br />

grã-finos em strip-tease. A perua-puta é conservadora. Com sua liberdade cheia de ouro,<br />

com sua evocação longínqua da realeza, com suas jóias e penteados, ela nos condena a<br />

um tesão sem requinte. Nada contra deliciosas perversões poéticas. Mas o explícito nega<br />

a perversão. Esse tesão nos brocha.<br />

Por que a socialite tem inveja da puta? A puta e sua arte, a pornografia, eram<br />

gueto que servia a nosso desejo de democraticamente mergulhar na lama do alívio<br />

social. A pornografia era o antilar, o prostíbulo era a alternativa ao tédio familiar. Tão<br />

sem rumo estão os privilegiados que a socialite inveja até a pseudoliberdade que a mídia<br />

atribui á puta. Os ricos e famosos invejam a desfaçatez que os pornográficos exibem: a<br />

rapidez, a leveza, a aerodinâmica dos membros, o impudor, o mito do orgasmo fácil, o<br />

fast fuck ideal, a pretensa ausência de culpa. Mas o que a socialite realmente inveja na<br />

puta é mais que a liberdade; é seu lado mercadoria, é a facilidade de se oferecer numa<br />

mais-coisa, numa exibição de mais-valor, mais objeto. A grã-fina e a atriz famosa<br />

querem tirar da puta a eficácia técnica de satisfazer o freguês. Antes, as putas queriam<br />

ser grandes damas. Hoje as damas querem ser putas.<br />

As milionárias que fazem de tudo parece o título de uma pornochanchada épica<br />

que no duro é apenas a voz do Mercado. Elas querem ser mais coisa que as coisas, mais<br />

úteis, mais consumíveis, querem ser máquinas desejáveis. Além disso, pela exibição de<br />

desinibições eróticas somem as fragilidades. Ninguém sai gritando: "Brochei!"<br />

Ninguém fala dos medos, das inibições. Nas entrevistas, só há heróis sexuais. E ficamos<br />

sabendo, no mercado persa do sexo, que o herói da novela é bem-dotado, a atriz engole,<br />

a outra cospe, o milionário gosta de dar, a melhor maneira de se iniciar no coito anal é

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