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A foto parece captar inteira a própria idéia do que seja a felicidade. Há uma<br />
espantosa alegria; há a aura fotografada de um sentimento indizível. Sente-se ali o vento<br />
da Bahia, sente-se o ruído do mar e sente-se que Glauber está numa euforia épica,<br />
materialista, que se alegra com o que liberta, não com o que acumula. Glauber<br />
começava a libertar coisas.<br />
Não é o típico orgulho comandante de cineasta padrão. Glauber está nu e não<br />
chefia autoritário equipe alguma. Na foto não se vê a equipe, como se só ele, com uma<br />
câmera na mão e idéia na cabeça, comandasse a si mesmo na direção de alguma coisa<br />
além do quadro. Para onde vai Glauber nesta foto? Para uma guerra ou para um êxtase?<br />
Há algo nele de corredor de biga de Ben-Hur. Estará competindo já com o grande<br />
espetáculo?<br />
Glauber também parece chamar uma fila de seguidores que estão fora do<br />
quadro. Quem são eles? Somos nós, na época, ou há outros, hoje? Para onde os guia?<br />
Para a guerra ou para o prazer? Há nesta foto as duas coisas. Porque, assim como um<br />
braço chicoteia, o outro aponta o caminho. Há um contraste lindo entre o seu imenso<br />
sorriso de felicidade (diria ventura) e a câmera, guerreira também, apontando para ferir<br />
realidades novas.<br />
A câmera de Glauber também assume o vulto de uma arma. Tem alguma coisa<br />
de fuzil, de metralha, de matadeira que, junto ao riso-grito de Glauber, cria a dualidade<br />
máxima do Cinema Novo: a câmera como fuzil e o infinito prazer da arte.<br />
pescador.<br />
Não se vê a terra (só o mar) e ele poderia estar em uma caravela ou canoa de<br />
Assim, ele poderia ser descobridor marítimo ou argonauta. Poderia estar<br />
gritando: "Terra à vista!"<br />
Há no sorriso dele (para quem o conheceu, é claro) um travo de prazer de<br />
vitória, quase uma arrogância de vencedor, o uivo de um general no êxito, na Vitória da<br />
Conquista (onde nasceu), que é no sertão da Bahia, cidade rude que ele transporta ali<br />
para beira-mar.<br />
Mas a vitória que Glauber cantava era a consciência antevista de que a câmera<br />
começava a captar um país. Começava a descoberta de um país que ainda estava<br />
invisível. Ao fundo, a música ondulante do candomblé, soando aguda nas vozes das<br />
iaôs: "Euaááá euaáá lajô... euaáá!"<br />
seguintes.<br />
Glauber está numa espécie de fotoprofecia de tudo o que fizemos nos anos