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Sexo renasce nas<br />
camisas-de-vênus em flor<br />
A revista Colors da Benetton é um indício da tendência do mundo<br />
de hoje para a realidade virtual.<br />
Camisa-de-vênus, no meu tempo, era palavrão. Hoje, chamam-na de<br />
camisinha, numa típica ruptura pós-pós com a beleza romântica do termo. Camisas-de-<br />
vênus, que eu conheci como sórdidos dejetos que flutuavam nas marolas da praia da<br />
Urca, eram provas pavorosas de um delito que eu ignorava.<br />
As camisas-de-vênus amanheciam escandalosamente nas praias entre as mães e<br />
as criancinhas brincando: "Mamaêêê, olha a bola de encher que eu achei!" E aqueles<br />
moles gomos gosmentos boiavam como anêmonas ou nenúfares nas águas da<br />
Guanabara. Eram testemunhas do pecado, aquelas pequenas birutas que nos falavam de<br />
um mundo de homens e mulheres enrascados na noite. Camisa-de-vênus era uma<br />
metáfora lunar, com o poético nome de deusa do Olimpo. A exposição crua das<br />
camisinhas na TV acabara com o doce mistério do sexo. Os anúncios contra a Aids<br />
trouxeram o fim das ilusões revolucionárias do amor carnal. De metáfora que era<br />
(camisa-de-vênus), virou metonímia (camisinha). Numa espécie de castração ao<br />
contrário (some o homem e só fica o falo), a camisinha expõe o pau em sua solidão de<br />
alpinista diante do terrível monte-de-vênus a escalar ou dos buracos negros a mergulhar.<br />
A camisa-de-vênus deixava entrever o mistério profundo do sexo clandestino (todo sexo<br />
era clandestino), do que se passava de ininteligível entre o pau e a vagina, entre dois<br />
corpos luminosos nas madrugadas do mundo.<br />
A camisinha exposta na TV nos castra ao contrário; só fica a função clônica de<br />
um pênis perigoso, em capa de chuva, encapotado em camisa-de-força (chemise<br />
anglaise) e que pode trazer a morte ou recebê-la de uma vagina-dentata que esteja na<br />
tocaia.