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20 mil horas de morte<br />

Do ponto de vista da classe média e da burguesia, estamos melhor em São<br />

Paulo. É mais fácil em São Paulo conter os avanços dos miseráveis. Do ponto de vista<br />

dos miseráveis, o Rio é melhor. Se eu fosse um miserável, preferiria morar no Rio.<br />

O arrastão é vital, é planejado pelo sentido do espetáculo mais do que pela<br />

mera necessidade de assalto. A Zona Sul é a Califórnia da Zona Norte. Os jovens<br />

querem prazer. Eles "não querem só comida; eles querem diversão e arte". Eles vêem a<br />

Globo e suas 22 mil horas anuais de cenas de violência, como comprovou uma<br />

pesquisa. Já morei no subúrbio em minha infância profunda e me lembro de que víamos<br />

o pessoal da Zona Sul como um bando de babacas. Lembro-me dos meus sete anos no<br />

Rocha, no dia em que ia me mudar para a Zona Sul e meus colegas me olhavam como<br />

um desertor; mas me animavam: "Lá tudo é viado, só tem viado!" diziam. Eram os<br />

'mauricinhos' da época, já olhados com inveja e raiva por nós.<br />

Zona Sul versus Zona Norte<br />

Hoje, o arrastão é um horror do ponto de vista da Zona Sul. Do ponto de vista<br />

dos trombadinhas, aquilo é uma grande farra mesclada com a guerra, é a liberdade com<br />

a necessidade, aquilo é uma luta heróica de marmanjos e pivetes sem nada, a não ser<br />

seus corpos que crescem sem motivo nem emprego, seus sexos, suas fomes. As favelas<br />

vão parindo milhares de corpos inúteis por ano. Eles são os caras-pintadas da Baixada,<br />

os anos rebeldes da favela, a versão brasileira de Los Angeles. Nenhum deles estava nas<br />

passeatas pró-impeachment. Eles estão eufóricos: viraram notícia, ganharam existência.<br />

Num estado sem infra-estrutura, você só existe na mídia. Eles agora trabalham na<br />

Globo; no departamento de figurantes do mal.<br />

Dizer o que deles? Que a situação é de miséria, que a luta de classes é blá blá<br />

blá? Infelizmente, não há muito mais. O problema é que o Brasil está virando o país do<br />

óbvio permanente, dos diagnósticos expostos e incuráveis. Só o chavão sociológico<br />

explica este país.

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