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A sensação principal de um carioca é a de estar no centro do insolúvel. É<br />
impossível continuar apenas o lamento sociológico que fala em migração rural, em<br />
ausência de emprego etc. O Rio é um dos lugares mais absurdos do mundo. Uma<br />
solução para o Rio só viria pela originalidade, algo como um grande centro bancário,<br />
uma hong-konguização da cidade etc. Além disso, teríamos de considerar o Rio um<br />
problema nacional. O governo federal teria de separar bilhões de dólares e se concentrar<br />
no Rio. O óbvio nunca é considerado: acabar com as favelas, criar um cinturão<br />
produtivo, reforma agrária etc. Mas isso seria impossível, desagradar a UDR, ora céus...<br />
Logo, o Rio será engolido por uma multidão de desgraçados e ninguém fará nada, como<br />
ninguém fez nada quando Gomes de Almeida Fernandes, Sérgio Dourado e Marcos<br />
Tamoyo bombardearam a cidade por dez anos. Como ninguém fez nada diante de<br />
décadas de absurdo, diante dos vários populismos que passaram, desde o getulismo<br />
tardio do chaguismo, passando pelo cinismo corrupto do moreirismo e culminando no<br />
horrendo nada do brizolismo terminal.<br />
Estas escolas de samba do mal (Arthur Omar) têm a virtude de mostrar a<br />
miséria administrativa de séculos. Falaram tanto em confronto social? Pronto; está aí,<br />
sem solução. Aliás, solução para quem? Para que a burguesia de Ipanema possa ir às<br />
butiques em paz, para que suas dondocas e idiotas possam posar sorrindo eternamente<br />
para as colunas sociais? Em breve estarão falando em extermínio. Já vão surgir as<br />
tropinhas burguesas se defendendo. Tudo bem, preparem-se, ponham seus<br />
uniformezinhos Adidas e vão à luta. O grande escândalo não são esses jovens loucos de<br />
fome de viver. O grande escândalo foi a vergonhosa sordidez da pior classe dominante<br />
cio mundo, evitando a miséria corno a uma gafe. E para chegar ao sublime, Brizola vem<br />
falar em piscininhas populistas na Baixada.<br />
Os pelotões funk são a tampa final na inépcia de décadas. Isto é só o começo.<br />
Vai ser muito pior. E todos falam em achar uma solução.<br />
Quem precisa de solução são os surfistas de trem e as hordas de miseráveis que<br />
estão invadindo tudo.<br />
Eles não são o nosso problema. Nós é que somos o problema deles.