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Sartre e as jabuticabas<br />

"O problema da literatura brasileira é que os escritores, nenhum deles, sabem<br />

bater um escanteio. Os intelectuais brasileiros vivem de olho na Europa. Quando o<br />

Saitre veio ao Brasil, fui numa conferência dele na casa de um intelectual importante.<br />

Grã-finas, artistas. Lá pelas tantas, dão umas jabuticabas para o Sartre chupar. O<br />

filósofo falava e chupava as frutas. E como não tinha onde cuspir, o intelectual<br />

brasileiro ficou com uma tigelinha de prata, ajoelhado, onde o Sartre cuspia os<br />

caroços... Rapaz, aí eu descobri a verdade fundamental: o intelectual brasileiro era a<br />

escarradeira do Sartre!"<br />

Eu no telefone, numa crise de laranja: "Porque Nelson, tudo bem, você não<br />

precisa ser marxista, mas as classes sociais, lutas de classes, a burguesia etc, tudo isto<br />

importa, o proletariado, a classe média, porque a classe média..."<br />

"Rapaz, para com isso, o Homem é de classe média!" atalha Nelson.<br />

Realmente o homem era de classe média e não sabíamos. Vejam o mundo hoje<br />

com a vizinha gorda e patusca comendo hambúrguer no Kremlin e o Yéltsin de classe<br />

média subindo ao poder.<br />

O triunfo do óbvio<br />

A própria história da literatura não sabe situá-lo direito. Apesar da<br />

unanimidade em colocá-lo como o maior dramaturgo brasileiro (critério hierárquico),<br />

não se aponta a infinita riqueza de seu minimalismo profundo, da atenção ao detalhe do<br />

cafezinho, do cachorro atropelado, do cravo-de-defunto, do juiz esbofeteado no futebol,<br />

da transcendente, amorosa, emocionante cafajestice brasileira.<br />

Nelson não era um simples satírico, um Mencken, um puro demolidor. Havia<br />

na sátira profunda um espantoso amor pelos pobres desgarrados da loucura nossa, os<br />

pobres-diabos que somos, dos quais ele não se excluía. Somos uma população de pés-<br />

rapados, isso ele mostrou. Nelson é o triunfo do óbvio na literatura. Nelson é a Semana<br />

de Arte Moderna do Rio, 20 anos depois. Só que não é fruto do dadaísmo (ele nem sabia

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