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porque age mais rápido que o calmante. O calmante demora.<br />
também é bom...<br />
— Qual calmante você gosta mais? — pergunto.<br />
— Ah... tem o grande Valium, um clássico... tem hoje em dia o Frontal, que<br />
Frontal bota uma faixa de vazio acima dos olhos, já tomei, anestesia na testa.<br />
Com ele João pode descansar.<br />
— Já li todo o Freud. Mas análise, não — me olha matreiro.<br />
Perto de sua inteireza, todos os conselhos ficam babacas, ligeiros, tipo "você<br />
precisa se divertir, passear, arejar".<br />
— Arejar onde, no Brasil, ai fora? — pergunta.<br />
— Você tem consciência da importância do seu trabalho?<br />
Por trás de toda a dor ele se permite um bater de pálpebra. Uma agulha de<br />
orgulho o fura por um segundo. Mas ele persiste:<br />
— A obra não me dá nenhum lucro. Minha obra é motivo de angústia. Eu<br />
sempre exijo mais de mim, mais... Saio do poema com picareta, suando. Só há dois<br />
caminhos; ou você arruina a saúde pela poesia ou pela preguiça. O sujeito tem de viver<br />
no extremo de si mesmo. Eu vejo isto na tourada. O bom torero é o que dá a sensação<br />
ao público de que vai morrer. Quanto mais perigo melhor poesia, melhor tourada.<br />
Mesma coisa no canteflamenco. É um cante que se expone, se expõe, corre risco. Sem<br />
exponerse, não há poesia.<br />
"Eu sempre escolho a pichação em lugar do elogio. O Nelson Ascher da Folha<br />
disse do Sevilha andando: 'Nada de novo na obra do maior poeta brasileiro'. Eu podia<br />
ter escolhido a segunda parte da frase, mas escolhi o 'nada de novo'. E fiquei remoendo<br />
aquilo."<br />
João e Vinicius<br />
Fica uma calmaria na sala com o Pão de Açúcar ao fundo. Lembro-me de uma<br />
noite, há 20 anos, na casa do Rubem Braga, em que o João, meio triscado de uísque,<br />
esculhambou o Vinicius a noite toda, implicando com sua falta de rigor. João tinha<br />
inveja do Vinicius, de sua aptidão para o prazer. E Vinicius, vice-versa, inveja da<br />
exatidão. Vinicius também de porre dizia: "Deixa pra lá, Joãozinho". E os dois, o sacana