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desimportância da Lei na tradição brasileira começa a morrer. Nossos heróis<br />
macunaímicos morrem. Nossa dialética da malandragem agoniza, até como mitologia<br />
carioca. Estamos com uma convulsiva fome de organização.<br />
O brasileiro não é mais uma vítima que reclama e que se une para reagir a um<br />
ataque, com atraso. Ele se une agora para atacar. Mesmo que se perca o impeachment,<br />
continuará o processo de aprendizagem, de política ativa. Esboça-se pela primeira vez<br />
um sopro de sociedade civil ativa. Parece que o brasileiro não espera mais alguém que<br />
faça por ele, nem um Napoleão, nem uma ideologia pronta.<br />
O fim do perdão<br />
Collor acabou com a crença no milagre brasileiro. Collor nos fez odiar séculos<br />
de fisiologismo e sebastianismo. Pelo excesso de delírio, começamos a amar a<br />
realidade. Sente-se o nascimento de uma coisa pública no país. Um público possível,<br />
não um público imaginário como no comício de 13 de março de 1964 ou nos cânticos<br />
do coração de estudante.<br />
Levando a família a um paroxismo, Collor nos trouxe o horror ao privado, ao<br />
familiar. Tudo foi tão cruel, que acabou com nosso afável coração de bondade. Sempre<br />
perdoávamos, esquecíamos. Acho que o país terá mais memória daqui para a frente. A<br />
implacabilidade de Pedro Collor nos ensinou a não perdoar. Nossa opinião pública está<br />
mais cruel. Acabou o brasileiro cordial. Não tiveram pena nem da mãe de Collor.<br />
(Estranho país em que o Pai Tancredo morre no dia da posse e a Mãe, como um Getúlio<br />
fêmea, agoniza na hora da queda.)<br />
Antes do abismo<br />
Não há mais a idéia de que o Brasil está à beira do abismo. Não há mais<br />
abismo, sabemos. Já caímos nele. Collor foi a vivência do abismo. O país antes vivia na<br />
borda, vivia antes do dia D, antes da verdade. Collor nos trouxe seu método suicida: