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Estava com cocô mole ou duro? Só existe o presidente, nosso amor e rancor. Somos<br />

habitados pela caspa do Jânio, pela hérnia do Figueiredo, a diarréia do Collor, o terçol<br />

do Itamar. Nada nos protege da loucura dos governantes. No caso-Itamar, o Brasil tem<br />

de ter cuidado para não irritar o presidente. Tudo o irrita ou abate. A miséria o irrita. A<br />

fome o abate. A tragédia do país passa a ser seu problema existencial. Se o país não<br />

melhorar, ele fracassa. E já vejo os alagados em pânico, os sem-terras pálidos de<br />

reverência: "Chut!... chora baixo, baixo! Vai irritar o presidente!" Se o presidente erra,<br />

torrando o saco de dois ministros da Economia em meses, foram eles que cometeram o<br />

erro de sair. Erra e põe a culpa em nós. Erra e fica abatido, vítima de uma injustiça que<br />

cometeu contra si mesmo. Ele erra e põe óculos escuros, para que não o vejam, como as<br />

avestruzes.<br />

Agora, o Itamar está carente. E o país, compungido. Nos botequins, os bêbedos<br />

comentam: "Ih... coitado do Itamar... vocês tão acabando com esse homem!"... Collor<br />

queria nos estuprar com a modernidade, vestir roupa espacial nos gabirus.<br />

Itamar sofre porque o país não cabe no modelo agropastoril que ele tanto ama.<br />

Collor sofria de ansiedade, Itamar de nostalgia.<br />

Personalismo e Centrão<br />

Mas este lírico abatimento de incompreendido esconde também um<br />

autoritarismo. Nem tanto dele, mas do país que o habita, desta democracia interior dele<br />

cozida em quatro séculos de mal-entendidos. Nosso discurso é sempre liberal, mas o<br />

interior é personalista. Dentro da cabeça mora um ditador, seja ele guimarãesrosiano ou<br />

2001, e nos lábios (só nos lábios) rola o lero-lero liberal. Há um Fujimori em cada<br />

Afonso Arinos; somos liberais com um tédio mortal do nosso fingimento.<br />

E não há saída deste terror pendular; se sai o autoritário, surge o fisiologismo,<br />

com o qual no Brasil o liberalismo se confunde. É sempre o eterno roteiro dos<br />

presidentes: entram botando banca e vão deslizando docemente para a gorda vala<br />

comum do Centrão. Assim foi Sarney, assim foi Collor, assim será Itamar. Entre o<br />

personalismo defensivo e o arromba-mento fisiológico o coração balança. No caso de<br />

Itamar, ele chega ao delírio de se dissociar do cargo que ocupa, como se ele fosse visto<br />

por um outro Itamar que está fora, um juiz de fora (perdão!). E um ataca o outro. Ele

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