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Antonioni. No quadro vazio de Antonioni algo pode acontecer de repente. Ali também.<br />
Quem vai chegar, Verlaine ou algum fantasma?<br />
A foto parece um fotograma, parece prefiguração do cinema. É extrema a<br />
modernidade do enquadramento, em plano geral (long shot), equalizando fundo e figura<br />
como se fosse o início de um travelling para a frente, como se a câmera fosse se mover<br />
lentamente até o close do mendigo ou até mais atrás, até um superclose do cadeado na<br />
porta (que dá para onde? Para o inferno, onde ele senta a beleza nos joelhos?).<br />
De todo modo, Rimbaud não estava apenas testando uma câmera. A tensão<br />
inerte que há nesta foto diante da matéria eterna e intransponível (apesar da escada de<br />
luz) coloca o vendedor de café na posição que Rimbaud pode ter assumido na vida.<br />
A escada de luz à esquerda pode ser para subir, mas o mendigo pode ter<br />
descido por ela, como Rimbaud também, até o fundo de seu tombeau três loin sous<br />
terre.<br />
seu balcão.<br />
Por fim, o tempo não parou como queria Rimbaud naquela tarde de 1883, de<br />
A máquina registrou a imagem. O homem moveu a cabeça e desfocou a<br />
imagem. Em seguida sua imagem despencou para dentro da câmera obscura do poeta. E<br />
a foto se fez.<br />
E então o homem moveu a cabeça em direção ao outro lado, em direção ao<br />
balcão e viu Rimbaud. Seus olhos se encontraram. E as duas imagens começaram a se<br />
mover em lento travelling, uma para a outra. Até que os dois enquadramentos se<br />
ajustaram perfeitamente: Rimbaud e sua loja, o homem e as colunas. E um substituiu o<br />
outro. Rimbaud ocupou o lugar exato que seu olho via ao lado da coluna, pois ali, em<br />
Harar, Rimbaud fotografava a si mesmo. O homem é Rimbaud, e a foto é a sua vida.