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parciais, de pedaços de corpo, pênis, vaginas, anuses (?), numa viagem ginecológica que<br />

nos dá a impressão de que o universo é feito de carne. E vemos mais, vemos The bitch<br />

is back (A volta da puta), vemos Bom dia Saigon, com a grande Aja. E vamos fixando<br />

pontos estéticos na linguagem pornô, que tanto ilumina o mundo de hoje.<br />

"Repare que o filme pornô não cuida do décor", me diz José Maria. Realmente,<br />

os filmes se passam em quartos neutros de hotéis ou apartamentos sem estilo. Estilo<br />

early nothing, como disse Gloria Grahame para Glenn Ford em Big heat, me fala José<br />

Maria. Olho impressionado e realmente vejo que aqueles quartos tristes, amarelos,<br />

denotam a melancolia dos autores. O cenário dos filmes de sacanagem é o cotidiano<br />

espionando tanto ardor exibicionista, a realidade desmentindo tanto tesão mágico. O<br />

cenário do pornô é a carne, um mundo infinito de corpos e de posições. Não há fundo;<br />

só há a figura. Só há o corpo, flutuando em quartos banais. O autor pornô não quer que<br />

haja mundo; só a pessoa. Filme pornô é em duas dimensões. Sempre parece que vai<br />

chegar o dono da casa no filme pornô. Quem mora ali?<br />

O galã de 38 cm<br />

José Maria me diz: "Agora um clássico, não o filme, mas o ator. É o John<br />

Holmes, o galã dos 38 cm, o Rambo dos falos". E realmente raia na tela uma espécie de<br />

monstro de ficção científica, uma serpente boitatá, um minhocão do futuro, diante de<br />

uma mulher que não esconde um riso de pavor.<br />

E José: "Vê, no que tange a mise-en-scène, o filme pornô tende para o close".<br />

O minhocão flutua no vídeo. Olho: realmente a câmera pornô trabalha por<br />

esfacelamento dos corpos. Não há quase corpo inteiro, pessoa, o objeto total. Existem os<br />

pedaços de corpo, as paisagens micro, de panoramas. Lembro-me de Sade: "Criem um<br />

panorama de nádegas!" O horizonte pornô é um entrepernas, os montes de vênus, a<br />

serra dos órgãos, os obeliscos, as torres de pica, o sol se pondo entre vaginas, os rios de<br />

esperma, os gritos dos animais, as alegorias de línguas, dentes, lábios, sempre pedaços,<br />

nunca o conjunto. Tudo de pertinho como se fosse o ponto de vista de um recém-<br />

nascido querendo voltar para dentro. Pergunto a José Maria onde há para ir, depois de<br />

tanto close, quão perto podemos chegar de um órgão. José me diz muito sério: "A

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