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mexer mais.<br />

Façamos o découpage da cena.<br />

A foto é minuciosamente vidente, fiel à poesia com a qual ele afirmara não<br />

A fotografia é um flagrante, mas não de um fato ou ação; é o flagrante de uma<br />

imobilidade. Mas uma imobilidade que parece mover-se, ferver nas moléculas como um<br />

quadro de Van Gogh ou trecho de um travelling de Resnais. Não capta o movimento de<br />

algo precioso; apenas um homem no chão, parado. A foto quer sugar o inerte.<br />

Há um leve desfoque na cabeça do abissínio, que indica que ele a moveu no<br />

instante exato do disparo.<br />

O homem não viu Rimbaud, pois não há curiosidade ou pose (câmera<br />

consciousness) neste modelo desértico.<br />

Diz-se que a foto foi tomada do balcão da loja em que o poeta trabalhava. Isto<br />

transforma a foto num contracampo, um espelho do mundo de Rimbaud, um avesso. De<br />

um lado, um europeu fugitivo com um aparelho moderno; de outro, o milênio.<br />

Na hora da foto, Rimbaud está de respiração suspensa, captando este painel do<br />

Tempo à sua frente. Há uma linha direta entre ele e o vendedor de café. O vendedor de<br />

café está na parte baixa do quadro, sob um céu de colunas, e seu rosto se move um<br />

segundo (atraído por quê? Um grito no deserto? Música?)<br />

O indício de que existe o Tempo é seu rosto em movimento. O cinema está ali<br />

no seu rosto; o resto é fotografia.<br />

O enquadramento é perfeito, se bem que a figura principal, notem, não é o<br />

homem, mas a grande coluna a seu lado e a outra coluna mais ao fundo. É como se<br />

Rimbaud fotografasse uma pedra em silêncio, só uma pedra, porque o homem está ali<br />

como uma pedra, pequeno, parte integrante da matéria inerte (se bem que seu rosto se<br />

moveu e marcou a passagem de um segundo, como um relógio de sol).<br />

Duas coisas lutam neste quadro: a) a tonelagem das duas colunas maciças<br />

(como sustentando um templo imenso), em contraste com b) a miséria rarefeita dos<br />

fragmentos que se espalham no chão em frente ao homem.<br />

É grande a distância de escala entre a massa material das colunas e os<br />

miseráveis cacarecos amontoados. O homem parece ter desistido de duas coisas: de<br />

tentar a grandeza (subindo ao templo das colunas) e de cuidar de seus cacos, utensílios<br />

abandonados da prática da poesia ("Je ne m 'occupe plus de ça").<br />

Os fragmentos à sua frente refratam a grandeza das colunas porque, por<br />

coincidência ou mistério, as duas ânforas, ou recipientes de guardar grãos de café,

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