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colunista mundana, Margarida Procópio; os miseráveis chatos, ou eternos descontentes,<br />
eram alvo do olhar fascinado de Burroughs que, sempre ligado em peversões sexuais, se<br />
infiltrou entre os pivetes do amor, dubles de cheiradores de cola (WB adorou o<br />
superbonder) e prostitutos, bofes (boffs, eu traduzi), e ia esbarrando também nos<br />
aposentados de carteirinha, nos gabirus em expansão (novo partido do Piauí), nos sem-<br />
tetos, nos sem-terras, e nos SNMs (sem-merda-nenhuma — numerosíssimos), os<br />
lumpens-musicais (mais recente novidade em música country, composto de cegos-<br />
violinistas, flautistas famintos, rappers-grafiteiros) e desgraçados em geral. Sentindo<br />
que WB se excitava muito entre as feridas e farrapos, encaminhei-o de volta (agarrado<br />
num boff jovem que logo lhe bateu a carteira), e ele continuou anotando a lista de novos<br />
tipos que eu via e lhe explicava: estes são os neo-PCs — careca falsa e óculos de ouro<br />
—, novo tipo popular, e muitas lobistas-fracassadas, lourinhas que imitavam a futura<br />
governadora de Alagoas, Rosane Collor. Havia também os usineiros perdoados, havia<br />
os empresários separatistas nordestinos que queriam autonomia na exploração das secas,<br />
havia o clube de Juiz de Fora, cercando o ex-presidente (a renúncia de Itamar por<br />
irritação criara o clube de seus defensores, tão aguerrido como o novo clube de Verbas<br />
para Serra Talhada, que puxava o saco do novo presidente Inocêncio de Oliveira, com<br />
apenas duas semanas de mandato); havia os coléricos-subversivos, fugidos do<br />
lumpesinato, ejetando fezes e gases em todas as direções; havia os eco-chatos com<br />
hordas de micos-leões que voavam em trapézios e cagavam na cabeça de todos; havia os<br />
tecnocratas-milagreiros (esquerda neoliberal que acreditava em luta de classes soft, na<br />
revolução por consenso), dos quais a vertente de direita, por assim dizer, era o<br />
Economista-Evangélico, que com seu slogan "Só Cristo salva da Inflação" dominava<br />
milhões e ameaçava os dois candidatos, Maluf e Lula, com sua força de milagres (se<br />
bem que Lula e Maluf cada vez menos quisessem vencer, cada um fazendo campanhas<br />
mais fracas para perder e escapar da fria); havia amigos abraçados em grande união, os<br />
monetaristas-humanistas (ex-ministros da Economia que se acham donos da verdade) e<br />
marxistas sem Marx, enlaçados pelo mesmo paraíso liberal, como havia os heteros e<br />
oitos da economia, numa luta meio gay de arranhões e gritinhos; assim como havia<br />
duques-debutantes e marquesas do progresso vestidos à Luís XV, e havia finalmente a<br />
grande frente PFL-PDC-PDS-PL-PRN, os Fisiológicos Sim!, que custei a traduzir para<br />
o caderninho de WB, que me dizia: "Sinto que todos aqui estão esperando uma<br />
revelação, um novo Cristo! O Brasil quer a Hiper!" E WB tinha razão, como vi logo<br />
depois.