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nem secretárias, nada. Dr. Roberto teve até um certo alívio, no alto do seu império, sem<br />

ninguém demandando ordens ou querendo servir, o que sempre cansa, sabem-no todos<br />

os poderosos. Pegou o papel, olhou em torno, feliz com o silêncio, suspirou confortado<br />

e voltou ao hall.<br />

Foi quando tudo se apagou. Todas as luzes do alto edifício da emissora (Vênus<br />

Platinada) sumiram. Era um grande black-out, o grande apagão, o negror absoluto<br />

envolvendo o Rio de Janeiro. Dr. Roberto procurou em vão o botão do elevador. Só<br />

achou a parede fria de aço escovado. Olhou lá fora e não viu nem a noite azul do<br />

Jockey, Gávea e Rio, nada. Tudo jazia na mais absurda noite sem lua.<br />

Dr. Roberto chamou com voz calma pelos assessores; ninguém respondeu. Seu<br />

chamado não traía medo ou ansiedade pois era homem que aos 18 anos já remava no<br />

Boqueirão, aos 70 fazia pesca submarina, aos 75 pulava de obstáculo na Hípica, homem<br />

que sempre viu a história do Brasil como uma extensão do seu desejo. Sua voz ecoava<br />

no hall do andar e ninguém respondia. Nem som, nem luz. Nada. Dr. Roberto pensou<br />

num fósforo, ou isqueiro, ou vela. Mas nada tinha, não fumava, claro. A escuridão<br />

começou a incomodá-lo e ele via que a contrariedade talvez fosse maior do que pensara.<br />

Controlou o nervosismo e resolveu tatear até a escada do prédio, já que o elevador<br />

sumira no buraco negro. Começou a descer as escadas, colocando os pés com cuidado, e<br />

aos poucos seus olhos se acostumavam com a escuridão. Não que ele estivesse vendo<br />

alguma coisa, pois nada havia para ver naquele vão que serpeava para baixo; é que aos<br />

poucos o negror absoluto da noite começou a dar lugar a um vazio mais penetrável, um<br />

escuro com várias gradações de negro, do vácuo sideral, passando pelo carvão, pelo<br />

nanquim, até um longínquo toque de cinzento no qual seus olhos se agarraram,<br />

enquanto ele descia pela Vênus Platinada, lentamente. A partir de um ponto, ganhara<br />

destreza, lembrava de famosos meros que desentocara, lembrava de noites de insônia<br />

em dias históricos, lembrava de uma queda do cavalo que lhe tirara os sentidos,<br />

lembrava do velho edifício de A Noite, o mais alto do Rio, escolhido por tantos suicidas.<br />

E aos poucos desistiu de chamar por ajuda, já que descia cada vez mais<br />

confortavelmente, pois o socorro, além de humilhante, já não parecia tão necessário. O<br />

térreo estaria próximo, ele sabia. A partir de certo ponto, parecia que os degraus se<br />

adoçavam, perdiam a angulosidade e davam-lhe a sensação de uma suavíssima rampa,<br />

onde, qual um esquiador noturno deslizasse em câmera lenta, como se estivesse numa<br />

noite muito escura em Gstaad, cidade tão amada por seus colunistas mundanos.<br />

Subitamente, ouviu gritos de pessoas que o chamavam. Vozes de assessores

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