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lado me aprovaram, e eu trêmulo agradeci.<br />

E tudo foi ficando sublimemente histórico.<br />

Ronald de Carvalho entrou e disse: "Vou declamar de Manuel Bandeira "Os<br />

sapos". E começou: "Enfunando os papos, saem da penumbra aos pulos os sapos!"<br />

Rajadas de zurros, apitos e até bexigas (bolas de ar) que explodiam, encheram<br />

o teatro. Ronald, pequeno e valente ia: "Em ronco que aterra, berra o sapo-boi: Meu pai<br />

foi à guerra!"<br />

De repente um sujeito late na platéia. Ronald: "Há um cachorro na platéia?"<br />

Um rapaz muito magro, com perfil de passarinho, berra: "É o eco da tua voz!" Estoura<br />

outra bexiga! Ploft! Ronald uiva na ponta dos pés: "Canalha cio cachorro e da bexiga,<br />

respeitem Manuel Bandeira!" A platéia fazia um coro que começou a ficar genial, me<br />

lembrando do futuro, dos programas do Chacrinha, com todos gritando como sapos: "<br />

Meu pai foi à guerra! Foi!... Não foi! Foi... Não foi!..." no ritmo da poesia. Um<br />

parnasiano de guarda-chuva berrou a meu lado: "Bilac está acima do lamaçal!" Pois os<br />

sapos satirizavam os parnasos.<br />

Tento me aproximar de Oswald, que tinha saído dos bastidores e estava junto a<br />

uma frisa. A gritaria dos sapos tinha amainado, pois agora recitava Agenor Barbosa,<br />

com o seu "Pássaros de aço". Uma mulher com estranha tiara no cabelo dizia alto para<br />

Oswald, de sorriso ácido e olhos em suas coxas: "Isto é poesia, sr. Oswald... os aviões...<br />

ouça..."<br />

Chego-me: "Sr. Oswald, uma pergunta?" Oswald se vira. Seus olhos sacam de<br />

cara minha gravata da Brooks Brothers do futuro, única peça errada em meu figurino.<br />

"Futurista", brinco.<br />

— Em que vai dar tudo isso, sr. Oswald? — pergunto.<br />

— Voce é de que jornal?<br />

— Folha de... da Noite.<br />

— Foi você que escreveu ontem que o Vila-Lobos tem olhos de quem sabe<br />

amar homens? Você acha que o Vila é 'fruta'?<br />

— Não... não fui eu... eu nem estava ontem aqui... — tremi.<br />

— Pois saíram no jornal, meu amigo, alusões mesquinhas em torno desta frase<br />

de terceiros... mas o que perguntou?<br />

— Que vai ser no futuro, isso aí... o senhor tem idéia?<br />

Oswald me olhou fundo, como se suspeitasse de uma armadilha.<br />

— Você parece saber a resposta... mas... acho que o que vai ficar... para além

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