14.05.2013 Views

Download - Xtecnologias

Download - Xtecnologias

Download - Xtecnologias

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Política pornô<br />

No elevador, o cabineiro com um jornal na mão puxa conversa. "Este país tá<br />

uma esculhambação, meu amigo, olha aqui, o negócio do INSS, o negócio dos<br />

aposentados. Tá uma miséria!..." E mostrava a folha do jornal, com cadáveres<br />

decapitados. Mais um elo se fechou. O Brasil estava para o mundo, como seus filmes<br />

pornô para os de Los Angeles. A pornografia brasileira vai muito além dos filmes das<br />

lojinhas. E no jornal apontávamos os filmes pornográficos dissimulados na política.<br />

O filme pornô estende sua luz para ajudar a entender o Brasil. Faz-se um filme<br />

pornô com os mesmos motivos com que se faz uma maracutaia política. Os roteiros são<br />

os mesmos, mesmos os diálogos, mesmos os movimentos de câmera, mesmos os<br />

enredos. Come-se o Brasil como se comem as pornoatrizes. Como no filme pornô, não<br />

se esconde mais nada. O neocorrupto de hoje é explícito, se orgulha disso, na política ou<br />

na violência.<br />

Saímos do prédio em silêncio. Parecia-me que alguma coisa fechava nisto tudo.<br />

Neste país que faz esta absurda exposição solar de uma pornografia social e política,<br />

começam os primeiros sinais de uma nova viagem para dentro da carne. O vampiro do<br />

Rio mata docemente os meninos e suga-lhes o sangue para transformá-los em anjos,<br />

com um sorriso de bondade. Antropofagia como uma eucaristia nova. Começa uma<br />

viagem para dentro da carne, como nos filmes pornôs. A carne como nova alma, já que<br />

a sociedade não abre caminhos. Com o socius sem saída, volta-se à carne, tanto no<br />

Carnaval quanto no crime religioso. Com a crescente desesperança surge a busca do<br />

óbvio, da coisa pela coisa, do sim pelo sim. Como nos filmes pornôs, nada é metáfora;<br />

pau é pau, coisa é coisa, morte é morte.<br />

ele.<br />

Despeço-me de José Maria na avenida 23 de Maio tarde da noite.<br />

— Eu moro perto, vou a pé — diz ele. — E a Jeanne Fine, hein? — pisco para<br />

— É um sonho... — diz ele se afastando.<br />

Enquanto busco o táxi, sei que estamos ligados pela mesma mulher.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!