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daquele quadro de Velasquez, daquele quadro que parecia estragar a feira de ilusões de<br />

todos os séculos. Mesmo as maiores obras-primas ficavam ingênuas diante daquele<br />

quadro monumental.<br />

Enigma do quadro<br />

As meninas foi pintado em 1656 e depois disso nunca mais a arte foi a mesma.<br />

Estava provada sua insuficiência diante do mistério do real. Estava provado que todos<br />

queríamos que a arte fosse um exaltante fascínio com o amor, o triunfo da imortal<br />

chama de um sonho sobre o nosso medo da morte, a nossa desesperada fome de<br />

eternidade. (Exceção feita à série negra de Goya, que pintou o Nada em Quinta do<br />

Sordo ao fim da vida.)<br />

As meninas é um quadro que mostra o próprio Velásquez pintando um grande<br />

quadro. Seria talvez ele pintando o próprio rei Filipe IV e sua esposa dona Mariana, que<br />

são vistos (ao fundo) refletidos num espelho. Eles estariam fora do quadro, posando,<br />

onde estamos nós, os espectadores que olhamos a cena há 350 anos.<br />

No centro, a infanta Margarida nos encara com petulância infantil. Suas duas<br />

damas de companhia (as meninas, como chamavam) cuidam dela com atenção. À direita<br />

do quadro, dois bufões da corte: a anã macrocéfala Maribarbola e o anão (parece um<br />

menino) Pertusato, que pisa no cachorro impassível.<br />

Mais atrás, à direita, outra dama de companhia e um homem velado. Ao fundo,<br />

José Nieto, chefe das tapeçarias do rei, abre o ponto de fuga, a porta aberta para o<br />

infinito.<br />

Por que este quadro é considerado obra máxima se ele trata de algo tão banal<br />

como criadas, anões, infante e cachorro olhando o trabalho de um pintor? Por que<br />

centenas de espectadores se acotovelam no Prado diante do quadro, eufóricos,<br />

aturdidos, falantes, nervosos, sem a contemplação piedosa e reverencial que se costuma<br />

ver em outras salas? O repórter acha que é porque o espectador (chusmas de japoneses<br />

olhavam o quadro com espelhinhos, riam e fotografavam) percebe que está diante de<br />

um radical desvio na arte, de um buraco no tempo.

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