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passar xilocaína no rabo, e que é bom transar na rua, dentro do carro de madrugada,<br />

vendo os operários passar. Há uma banalização da liberdade com o próprio corpo que<br />

exclui um inconsciente cheio de problemas. Pela liberdade de uso do próprio corpo se<br />

chega à idéia: "Sou tão mais livre quanto mais usável". Uso o meu corpo como se fosse<br />

uma prótese, um outro que não eu, uma terceira coisa nas prateleiras do mercado<br />

erótico. E a idéia de angústia diminui se chegarmos ao ideal clônico de coisas. A<br />

verdade é esta: queremos ser coisas. As peruas invejam as putas porque as putas são<br />

objetos. Queremos a suprema felicidade das coisas. As coisas são úteis, as coisas são<br />

compradas, têm valor e, principalmente, as coisas não têm sofrimento. Nosso supremo<br />

ideal é sermos desejados como um bom eletrodoméstico. O humano é um resíduo<br />

descartável onde mora a dúvida, a morte. Não é verdade que estas pessoas querem ser<br />

livres. Seu desejo é serem consumidas, mais que consumirem. As antigas aristocracias<br />

frutam o prazer. Para isso, tinha de haver uma ética epicurista ao menos, uma estética,<br />

um sim e um não, um ritual. A desritualizaçâo do prazer acaba com o requinte dos<br />

perversos. O objeto artístico, aurático da sacanagem, deu lugar à suruba sem alma. E a<br />

sacanagem precisa da escolha, da estética, da dor. Não existe prazer sem angústia. A<br />

fome de transparência que se almeja hoje em dia leva ao deserto sexual, como diz Jean<br />

Baudrillard: "A verdadeira catástrofe seria a onipresença de todas as redes, a<br />

transparência total da informação. (...) Se a promiscuidade sexual se realizasse, seria o<br />

próprio sexo que se aboliria em seu ímpeto assexuado".

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