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urrice, rapaz; a burrice é a pedra da Gávea, é uma força da natureza...<br />
— Mas o comunismo acabou...<br />
— Acabou? Na batata?<br />
— É. Agora é a pós-modernidade...<br />
— O que é isso?<br />
— Bem... é... o fim das esperanças...<br />
— Rapaz... o mundo sempre foi pós-moderno... vocês deviam se abaixar e<br />
beber na sarjeta da pós-modernidade... É a sua salvação... rapaz... a falta de esperança...<br />
"As pessoas não sabem que o Marx era genial onde ninguém viu. Ele dava<br />
importância aos botequins da Alemanha, aos bifes, aos mortos de fome... Quiseram<br />
fazer dele um abstrato. Ele sempre foi pós-moderno.<br />
"O brasileiro está agora livre do lero-lero, e pode ver melhor que sempre foi<br />
um pé-rapado. Se ele não reconhecer isto, está frito. O brasileiro tem de assumir a<br />
própria miséria, a própria lepra... Assumam a própria miséria, ela é a salvação."<br />
— Pode ser um projeto...<br />
— Que projeto, rapaz, não seja profundo; seja burro. O problema do brasileiro<br />
é que ele quer ser profundo. Uma vez veio um diretor de teatro aqui almoçar comigo.<br />
Queria montar a Dorotéia. Foi profundo... falou... falou... E na saída, rapaz, eu vi que<br />
ele roubou uma manga da sobremesa e botou no bolso pra levar para a mulher dele...<br />
rapaz... isto é o teatro brasileiro!<br />
"Eu sou contra a pose. O brasileiro é o brasileiro, pronto. Se ele quiser ser<br />
húngaro ou japonês é uma tragédia. O pior é que o japonês está contente por ser<br />
japonês, o americano eufórico por ser americano. Só o brasileiro odeia a própria<br />
imagem, como um Narciso às avessas. Vejam o caso do Collor...."<br />
— Você sabe disso?<br />
— Eu acompanho, acompanho... Ele queria ser do Primeiro Mundo e o que<br />
aconteceu? Por causa da cunhada, e foi só por isso, pelo infinito ciúme do irmão, foi<br />
tirado do poder e agora está amarrado ao pé da mesa, bebendo água numa cuia de queijo<br />
Palmira. Ele quis ser o Churchill e acabou como o Palhares, o que não respeita nem as<br />
cunhadas. O que é isso? Quis deixar de ser brasileiro. Eu, quando passo além do Méier,<br />
já começo a sentir uma nostalgia brutal pelo Brasil.<br />
— E o Brasil de hoje, Nelson?<br />
— O país estava precisando de um banho de óbvio. Só os profetas enxergam o<br />
óbvio. E o óbvio está aí. Já é bom.