14.05.2013 Views

Download - Xtecnologias

Download - Xtecnologias

Download - Xtecnologias

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A crise é boa para a sociedade civil, já que ninguém sabe onde está a sociedade<br />

civil. Onde está a sociedade civil? Vendo a Globo? No shopping center? No Fasano?<br />

Na Europa? A crise é boa para achar a sociedade civil.<br />

A crise é boa para aumentar o contato com o absurdo, logo, com o mistério da<br />

vida. Neste sentido a crise é filosófica. Aumenta a profundidade dos políticos. Daí<br />

dizer-se: "É profunda a crise..."<br />

A crise é boa para o messianismo. Pode fazer surgir salvadores da pátria, assim<br />

devolvendo um sentido épico à nossa existência. Pode restaurar utopias. Assim, acabar<br />

com a ópera seca da pós-modernidade. A crise é neoclássica, uma renascença.<br />

A crise é democrática como a morte: ela poderá atingir a todos, com exceção<br />

dos políticos, claro, que ganham bem e podem ficar intocados pela adversidade. Assim,<br />

a crise é equalitária, fraternal.<br />

O caos ou o pântano<br />

A crise é boa para nos levar a uma definição. Por exemplo: quando começa o<br />

caos? Já começou? O que é o caos, onde é? A crise será boa para matar esta curiosidade.<br />

Temos um insano desejo de conhecer o caos.<br />

A crise é generosa. Ela dá opções. Segundo o ministro Marcílio, não teremos o<br />

caos, teremos o pântano.<br />

Segundo o Delfim, teremos a africanização. Isto nos dá um delicioso cardápio<br />

de possibilidades. Tem gente que prefere o caos, seus traços duros, a tragédia a pino. Já<br />

outros preferem o pântano, como os sapos. Creio mesmo que a tendência brasileira<br />

preferirá o pântano, o brejo, o brejal das almas, o bosteiro, porque além de ter mais a ver<br />

com nosso regionalismo, com nosso folclore, é mais administrável.<br />

O pântano dura séculos: é melhor. Já o caos não combina tanto com nossa alma<br />

cordial. O caos é um negócio muito radical, meio anglo-saxão, meio eslavo. Já o doce<br />

pântano é mais Brasil... sapos coaxando no Congresso, uma greve ali, uma matança de<br />

flagelados e invasores acolá, a sudanização do Nordeste (que aliás permitirá ótimas<br />

fotografias como as da África: confira Photos, Zoom etc.), com os negros magérrimos,<br />

chiquérrimos, com grande dignidade na miséria. Altos visuais proletários.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!