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O casal de anti-heróis<br />

O problema do país não é jurídico, nem moral. É dramático. Guilherme foi a<br />

oportunidade de uma dramaturgia pós-godardiana na novela da Globo. Mas a direção<br />

artística não quer.<br />

Guilherme e Paula são o outro dos personagens, o avesso dos heróis de TV.<br />

Eles são um casal maldito (que até nos anos 70 poderiam ter vida dramática de anti-<br />

heróis, pênis e vagina tatuados, marginais-heróis contra o mundo da caretice, etc).<br />

Guilherme e Paula são mais ainda. Guilherme foi leopardo, como o são os idílicos<br />

galãs-bofes da novela. Paula foi freqüentadora dos reais shows da galeria Alaska.<br />

Ambos são a face barde realista da caretice light e desidratada da ficção. A<br />

complexidade realista de Guilherme e Paula não é legível em horário nobre. Guilherme<br />

e Paula têm de ser tratados por filme de arte. Eles têm de ser castigados para a novela da<br />

vida ter um bom final.<br />

Não importa que milhares de assassinos do mundo real não sejam punidos. Não<br />

importa que os assassinos do Carandiru fiquem impunes. Eles são tão desconhecidos<br />

quanto os 111 mortos. Eles são documentário, não ficção. Eles só atingiram a fama<br />

porque a visão dos corpos nus foi muito gráfica, naquele show de leopardos mortos com<br />

número no peito. Guilherme e Paula são a invasão do real no mundo do simbólico. Eles<br />

demonstram que a morte não é apenas uma endemia rural dos miseráveis. A morte está<br />

até mesmo debaixo do padrão Globo de qualidade, como um escorpião que tem de<br />

morrer para ninguém ver.<br />

Tudo vai bem na Globo, tudo sempre foi bem na Globo. Na pior ditadura, a<br />

Globo ia bem; na pior recessão a Globo vai bem. É nosso Olimpo. Quando a realidade<br />

invade a ficção, é necessário extirpá-la. A Globo é nossa reserva ecológica de<br />

felicidade.

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