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felizes em nossas jaquetas que vieram de Miami; isso, Boca Raton, sim, felizes, há um<br />

progresso enorme em nossas famílias e os pessimistas que só olham para as costelas dos<br />

famintos não chamam isso de progresso, por quê? Querem o quê? Que fiquemos magros<br />

também, que dividamos nossas conquistas com os que nada têm, querem socializar os<br />

problemas da miséria? Ademais, é impossível salvá-los. São 60 milhões de pobres.<br />

Foram chocados em quatro séculos de tradições. A única solução é variar o foco da<br />

atenção, virar o óculo para outra face da beleza, a beleza do poder no campo e também<br />

na cidade: a sólida felicidade de contemplar a cadeia de cartéis, a alegria de ver uma<br />

cidade inteira de carneiros ir para suas fábricas, ver os fulgurantes escritórios, a hábil<br />

tessitura de negócios interbancários, os finos conluios com o Estado, a ronda dos<br />

incentivos fiscais, a grande arte dos lucros fabulosos, as mandíbulas salivando a cada<br />

grande negócio fechado. Tudo isso é belo! "Tudo é muito natural... sempre foi assim",<br />

balbuciou Inocêncio de Oliveira. E muitos amigos e confrades pensam assim, amigos<br />

que conhecem a beleza superior deste imenso patrimônio espiritual que nós possuímos<br />

no Brasil, feito de amizades, famílias amplas, burocratas cooperativos. E nossa<br />

ideologia secular se espraia pelas cidades; homens como Maluf são do campo, Quércia,<br />

ACM são do campo, usineiros na alma, mesmo que se travistam de urbanos. Todos têm<br />

o quente sentimento de propriedade, na qual eles querem incluir mais e mais o país,<br />

como prótese de suas vidas privadas coroadas pelo êxito. É tão mais autêntico ter amor<br />

por seus bens reais do que o discurso abstrato de rancorosos intelectuais. Quem disse<br />

que o mundo é para mudar? Isto é, no mínimo, herança protestante de secos saxões. A<br />

classe dominante deste pais é uma grande família, unida por laços quase irracionais de<br />

amizade total, mesmo que definhe sob nossos pés a massa de escravos e seus escuros<br />

mundos. Será que não vêem esses profissionais do pessimismo outras formas de beleza?<br />

A beleza dos condomínios de luxo, o isolamento dos prédios elegantes, o eficiente<br />

banimento de invasores, as paisagens urbanas vistas através do blindex, as velozes<br />

paixões dos cartões de crédito, o eufórico alarido dos restaurantes, os roncos de jet-skis<br />

á beira-mar, os gemidos das amantes no cetim, o ronco dos jatos prateados, a euforia<br />

dos almoços de conchavos, a vitória de um interesse corporativo, tudo isto que doura o<br />

nosso progresso? Por que só olhar para o fracasso dos famintos?<br />

Dentro de algum tempo, quando o país começar a definhar mais e mais por<br />

baixo das frágeis camadas do progresso, continuaremos a ver o que havia de natural em<br />

nossas vidas, o que era a continuidade da ordem do mundo; e a cada catástrofe (como<br />

eles chamam) adaptaremos (com incrível habilidade) nossa felicidade para os novos

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