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Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

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ça a saber baixá-los e enrubecer; torna-se sensível antes de saber o que sente; mostra-se<br />

inquieto sem razão de sê-lo. Tudo isso pode ocorrer lentamente e podereis ter tempo<br />

ainda de entender. Mas, se sua vivacidade se faz demasiado impaciente, se sua exaltação<br />

se transforma em furor, se ele se irrita e se enternece de um momento <strong>para</strong> outro, se verte<br />

lágrimas sem motivo, se, perto dos objetos que começam a tornar-se perigosos <strong>para</strong> ele,<br />

seu pulso se acelera e seu olhar se inflama, se a mão de uma mulher pousando na sua o<br />

faz fremir, se se perturba ou se intimida perto dela, Ulisses, ó sábio Ulisses, toma cuidado;<br />

os odres que com tanto cuidado fechavas estão abertos; os ventos já se desencadearam;<br />

não largues um só momento o leme ou tudo estará perdido.<br />

Eis o segundo nascimento de que falei; agora é que o homem nasce verdadeiramente<br />

<strong>para</strong> a vida e que nada de humano lhe é estranho. Até aqui nossos cuidados não passaram<br />

de jogos infantis; só agora adquirem uma importância real. Esta época em que terminam<br />

as educações comuns é precisamente aquela em que a nossa deve iniciar-se; mas <strong>para</strong> bem<br />

expor este novo plano, voltemos a analisar o estado das coisas que a ele se referem.<br />

Nossas paixões são os principais instrumentos de nossa conservação: é portanto<br />

empresa tão vã quão ridícula querer destruí-las; é controlar a natureza, é reformar a obra<br />

de Deus. Se Deus dissesse ao homem que aniquilasse as paixões que lhe dá, Deus quereria<br />

e não quereria; estaria em contradição consigo mesmo. Nunca ele deu tão insensata<br />

ordem, nada de semelhante está escrito no coração humano; e o que Deus quer que um<br />

homem faça não o faz dizer por outro homem; di-lo ele próprio, escreve-o no fundo do<br />

coração do homem.<br />

Eu acharia, quem quisesse impedir as paixões de nascerem, quase tão louco quanto<br />

quem as quisesse aniquilar. E os que pensassem tal fosse minha intenção até aqui, terme-iam<br />

certamente muito mal compreendido.<br />

Mas raciocinaríamos bem se, pelo fato de ser da natureza do homem ter paixões,<br />

concluíssemos que todas as paixões que sentimos em nós e vemos nos outros são naturais?<br />

A fonte é natural sem dúvida, mas mil riachos a ela estranhos ampliaram-na; é um<br />

grande rio que aumenta sem cessar e no qual encontraríamos com dificuldade algumas<br />

gotas das primeiras águas. Nossas paixões naturais são muito restritas; são os instrumentos<br />

de nossa liberdade, tendem a conservar-nos. Todas as que nos subjugam e nos destroem<br />

vêm de fora; a natureza não no-las dá, nós nos apropriamos delas em detrimento<br />

dessa natureza.<br />

A fonte de nossas paixões, a origem e o princípio de todas as outras, a única que<br />

nasce com o homem e não o deixa nunca durante sua vida, é o amor a si mesmo; paixão<br />

primitiva, inata, anterior a qualquer outra e da qual todas as outras não são, em certo<br />

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