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Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

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É importante enfatizar que a palavra técnica, <strong>para</strong> Heidegger, não se limita<br />

aos objetos tecnológicos, mas a toda atitude que se desenvolve no enquadramento<br />

da racionalidade unilateral que reduz os outros seres à condição de objetos cujo<br />

único valor reside em como podem ser utilizados pelo sujeito humano. Aquele<br />

que “deixa-ser” instaura uma relação simples e pacífica com as coisas, ao mesmo<br />

tempo em que lida com elas; reconhece que o mundo tecnológico não é o único<br />

modo segundo o qual as coisas podem ser. O universo não se resume a uma soma<br />

de objetos, conhecidos ou ainda não conhecidos, que estariam a dispor do ser humano.<br />

No enquadramento do mundo da técnica, outros modos de desvelamento<br />

dos seres foram ofuscados, na medida em que o homem projetou a sombra de sua<br />

vontade de poder sobre todas as coisas, vendo-as unicamente como objetos de um<br />

sujeito egocentrado e onipotente.<br />

Este ofuscamento corresponde a um empobrecimento do próprio ser humano,<br />

um estreitamento de suas potencialidades de sensibilidade, percepção e<br />

pensamento. No pensamento de Heidegger, tal processo provém de um esquecimento:<br />

o esquecimento do sentido do Ser, que é simultaneamente o esquecimento<br />

de nosso verdadeiro ser, de nossa identidade autêntica. No entanto, só esquecemos<br />

aquilo que já soubemos; só perdemos aquilo que já tivemos e que, por isso mesmo,<br />

podemos recordar e restituir. Este re-encontro se dá mediante uma mudança radical<br />

em nossa postura de vida; a disposição de “deixar-ser” os outros seres, a renúncia<br />

ao desejo voraz de tudo controlar e possuir. Na medida em que isso acontece,<br />

podemos reatar com a experiência que os gregos antigos chamavam Thaumas, a<br />

experiência da admiração e do espanto diante da presença do extraordinário no<br />

comum e cotidiano.<br />

Heidegger, ao tomar a ética no seu sentido grego de morada, revela sua<br />

dimensão de ambiência, isto é, a ética como modo em que o ser humano realiza<br />

sua humanidade. É neste sentido que Heidegger se reporta à palavra do pensador<br />

pré-socrático Heráclito de Éfeso (séc. VI a.C.): “A morada do homem é<br />

o extraordinário”. Uma das ressonâncias que esta palavra de Heráclito desperta<br />

é o assinalar o ser humano como ser que está sempre aberto – quer ele o saiba<br />

ou não – à possibilidade de dar testemunho da eclosão do extraordinário – a<br />

plenitude do Ser – em sua manifestação nos seres de nosso mundo. O lugar do<br />

ser humano no todo é dar testemunho desta epifania do Ser. Na arte, na poesia,<br />

no ritual, e até na tecnologia fiel a sua significação originária, alcançamos a<br />

nossa autêntica humanidade à medida que nos dispomos a ser o que constitutivamente<br />

já somos – o lugar, a abertura <strong>para</strong> a manifestação do Ser em todos<br />

os seres. Esta visão sobre o sentido da jornada do humano pode ser encontrada<br />

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