Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
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As perseguições sofridas, o rechaço como irreligioso e subversivo pelos<br />
cantões suíços, com o espírito agitado pelo sentimento persecutório, sem “tranqüilidade”<br />
e sem “amigos”, Rousseau adota uma atitude de isolamento, retorna<br />
<strong>para</strong> o contato com a natureza e nela se refugia <strong>para</strong> encontrar a si mesmo e<br />
gozar do sentimento íntimo da vida. Entrega-se aos passeios no campo e à livre<br />
imaginação. Nesse período, escreve Os devaneios de um caminhante solitário (publicado<br />
em 772). Conforme suas palavras: “Estas horas de solidão e meditação<br />
são as únicas do dia em que sou plenamente eu mesmo e em que me pertenço<br />
sem distração, sem obstáculos e em que posso verdadeiramente dizer que sou o<br />
que desejou a natureza”. 9<br />
Qual, então, o sentido de natureza, motivo fundamental de toda a obra<br />
de Rousseau?<br />
É necessário destacar, primeiramente, que o conceito de natureza faz<br />
parte de um espírito de época (Zeitgeist) também compartilhado pelos pensadores<br />
iluministas, mas não possui aí o mesmo sentido que em Rousseau. Para<br />
Cassirer, a idéia de natureza no iluminismo<br />
[...] não designa somente o domínio da existência ‘física’, a<br />
realidade ‘material’, da qual cumpre distinguir a ‘intelectual’<br />
ou a ‘espiritual’. O termo não diz respeito ao ser das coisas,<br />
mas à origem e ao fundamento das verdades. Pertencem à<br />
‘natureza’, sem prejuízo do seu conteúdo, todas as verdades<br />
que são suscetíveis de um fundamento puramente imanente,<br />
as que não exigem nenhuma revelação transcendente, as que<br />
são certas e evidentes per si. Tais são as verdades que se<br />
busca, não só no mundo físico, mas também no intelectual e<br />
moral, pois são essas as verdades que fazem do nosso mundo<br />
um só ‘mundo’, um cosmo que repousa em si mesmo, que<br />
possui em si mesmo seu próprio centro de gravidade. 0<br />
Rousseau radicaliza essa concepção de natureza: não é mais um conceito<br />
místico, tampouco mecânico, como na física contemporânea, mas uma unidade<br />
pré-empírica que age autonomamente, uma unidade perfeita, anterior à socieda-<br />
9 ROUSSEAU, J.J. Os devaneios do caminhante solitário, p.40.<br />
10 CASSIRER, E. A filosofia do Iluminismo, p. 325.<br />
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