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Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

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E assim pensei que as ciências contidas nos livros – pelo menos<br />

aquelas cujas razões são apenas prováveis e não oferecem<br />

quaisquer demonstrações, pois se compuseram e se avolumaram<br />

gradativamente graças às opiniões de diversas pessoas – não se<br />

acham, absolutamente, tão próximas da verdade quanto os simples<br />

raciocínios que um homem de bom senso pode formular<br />

naturalmente, no que concerne às coisas que se lhe apresentam<br />

(Ibid., p. 39-40).<br />

É possível identificar, em tal pensamento cartesiano, uma certa medida de<br />

ansiedade em relação à condição da infância. Desse modo Bordo ( 987) salientou<br />

que há na obra de Descartes um claro senso de desânimo. Ele sugere que isto é<br />

fruto da crença de Descartes de que é uma pena que não consigamos colocar em<br />

uso os discernimentos propiciados pela razão, quando nascemos. Descartes queixase<br />

particularmente do fato de cedo sermos moldados por professores e tutores, em<br />

suma, pela tradição. É neste período, que somos dotados pelo “preconceito” da tradição.<br />

Na verdade, Descartes parece lamentar o próprio fato de termos que herdar a<br />

cultura, a história e a tradição. Em suas palavras:<br />

E, ainda assim, pensei que, uma vez que todos nós fomos crianças<br />

antes de chegarmos a ser adultos, e como foi necessário,<br />

durante muito tempo, que fôssemos governados por nossos desejos<br />

e nossos preceptores – que com freqüência se opunham<br />

uns aos outros – e que nem os primeiros nem os últimos talvez<br />

nem sempre nos aconselhassem o melhor, é quase impossível<br />

que nossos juízos sejam tão puros ou tão sólidos quanto se tivéssemos<br />

o uso inteiro de nossa razão, desde o nascimento, e se<br />

tivéssemos sido guiados somente por ela. (Ibid., 998, p. 40).<br />

É então que é possível identificar o início do que Bordo ( 987) descreve<br />

como processo de purificação do pensamento, que se encontra em Meditações, nas<br />

regras <strong>para</strong> a direção do espírito e nos Princípios. Descartes declara estar preocupado<br />

com as incertezas de seu tempo e numa tentativa de vencê-las propõe uma volta ao<br />

início de tudo. Isto, segundo seu argumento, só pode ser feito através de um ataque<br />

persistente e completo à tradição:<br />

[...] mas que, com relação a todas as opiniões que até então acolhera<br />

em meu crédito, o melhor que poderia fazer seria disporme,<br />

de uma vez por todas, a retirar-lhes essa confiança, a fim

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