Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
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Para efetivar a possibilidade de trazer “as multidões” <strong>para</strong> o domínio da política,<br />
ou da liberdade política universal, as revoluções da era moderna – a Francesa,<br />
especialmente – constituíram uma nova forma de governo, nunca antes existente,<br />
visando à formação de um novo corpo político, onde a liberação da opressão visa a<br />
constituição da liberdade. Trata-se de liberdade <strong>para</strong> todos, a garantia na lei de que<br />
todos os indivíduos nascem iguais – e são igualmente livres. Este é um fato sem<br />
precedentes na História da humanidade até então, e inigualável, segundo Arendt.<br />
Certos regimes políticos, como a monarquia – desde que não seja um governo<br />
tirânico –, podem até garantir alguns direitos civis, ou a ausência de opressão,<br />
ou a liberdade de ir e vir. Mas a liberdade, política universal só pode existir em um<br />
novo governo, que foi criado com as revoluções – a República. As revoluções trouxeram<br />
a experiência de ser livre, o que era uma novidade em relação aos séculos<br />
que se<strong>para</strong>m a queda do Império Romano do surgimento da era moderna. Assim,<br />
relativamente falando, a experiência de “ser livre” era uma experiência nova, trazida<br />
pelas revoluções. Da mesma maneira era uma novidade a experiência de se<br />
começar algo novo, a capacidade que os homens do período tiveram <strong>para</strong> instaurar<br />
um novo regime político, um novo tempo 5 . Estes dois fatos – a emergência da<br />
liberdade e a experiência de um novo começo – seriam o que define o conceito de<br />
revolução, <strong>para</strong> a autora.<br />
Tais experiências aconteceriam ainda que os “revolucionários” não tivessem<br />
total consciência do alcance de seus atos, e que as revoluções tenham começado<br />
como tentativas de restaurações ou correções dos regimes políticos anteriores. Em<br />
algum ponto as revoluções se tornaram muito maiores de que os seus personagens<br />
puderam prever. É o que a autora chama de “fluxo irresistível” das revoluções, que<br />
se livram da influência ou do poder dos homens e os arrastam, como uma corrente<br />
poderosa, à qual eles têm que se render, a partir do momento em que decidem estabelecer<br />
a liberdade na terra.<br />
É nesse ponto que se pode refletir sobre o sentido original do termo revolução,<br />
emprestado das ciências naturais, especialmente da física e da astronomia, que<br />
ganhou importância com Copérnico. Embora neste sentido primeiro não estivessem<br />
contidas as idéias da novidade, do recomeço ou da presença inerente da violência,<br />
é daí que sai a noção da “irresistibilidade”. Os movimentos rotatórios das estrelas<br />
e corpos celestes, ou suas revoluções, sempre regulares, aconteciam independentemente<br />
da influência dos homens, e por isso eram considerados irresistíveis.<br />
5 Na Revolução Francesa, a idéia de um novo começo é ainda mais clara, instaurada com o calendário revolucionário<br />
– começa-se a contar o tempo no ano da revolução.<br />
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