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Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

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O velado da terra, a pedrice da pedra, o brilho da cor não podem ser reduzidos<br />

unicamente ao que o pensamento do cálculo apreende, porque são ontofanias,<br />

modos de revelação do ser, que possibilitam múltiplos sentidos e remetem a diversos<br />

níveis de experiência. Se a imposição unilateral deste modo de se relacionar com o<br />

real constitui o desenraizamento próprio do homem moderno, o morar que é um<br />

preservar e salvar, isto é, que deixa-ser, propicia ao ser humano a condição de um<br />

novo enraizamento.<br />

Os “mortais”, que Heidegger contrapõe ao homem planetário, são aqueles<br />

que sabem habitar, morar, no sentido pleno da palavra, isto é, que sabem respeitar<br />

a Terra e seus seres, acolher e preservar, deixar o próximo ser próximo e o distante<br />

ser distante, reconhecer o sagrado, assumir a morte. São os seres humanos que são<br />

capazes de acolher a morte enquanto morte, isto é, de percorrer todas as transformações<br />

e metamorfoses da vida.<br />

Segundo Heidegger, a filosofia que fundamenta o desenvolvimento da tecnologia<br />

moderna – a filosofia moderna – estabelece uma relação inteiramente nova do<br />

homem com o mundo. O mundo doravante aparece como um objeto, e unicamente<br />

como um objeto, a ser enquadrado e controlado. Esta relação se dá sob a égide de<br />

uma dimensão do pensar que Heidegger chama “o pensar que calcula”.<br />

O mundo aparece agora como um objeto sobre o qual o pensar<br />

que calcula dirige seus ataques, e a estes nada mais deve resistir.<br />

A natureza torna-se um único reservatório gigante, uma fonte<br />

de energia <strong>para</strong> a técnica e a indústria modernas (Heidegger,<br />

980, p. 4 ).<br />

Segundo Heidegger, o pensar que calcula é indispensável, mas é uma dimensão<br />

do pensamento. Sua especificidade reside no fato de que, quando planificamos<br />

e organizamos, lidamos sempre com condições já dadas de fazê-las servir a algum<br />

objetivo específico. O pensar que calcula computa sempre, mesmo que não trabalhe<br />

nem com computadores nem com números; computa novas possibilidades <strong>para</strong><br />

chegar a resultados definidos.<br />

O cálculo, que domina o modo de ser do homem planetário, não designa<br />

simplesmente a prática do saber matemático, mas “um modo de comportamento”<br />

que determina todo tipo de ação e atitude desse homem. Segundo Heidegger, sua<br />

exacerbação é a atitude que só reconhece como real a ação prevista, organizada,<br />

planificada. O cálculo, enquanto tal, se opõe a todo movimento espontâneo daquilo<br />

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