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Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

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fonte de erro. Pesquisa filosófica atual, e de fato, a pesquisa na área da neurologia, no<br />

entanto, tem demonstrado que as emoções influem na razão (DAMASIO, 994).<br />

Na verdade, o pensamento ecofeminista também tem enfatizado a necessidade de<br />

restabelecer os sentidos dentro da filosofia.<br />

Descartes presta especial atenção às ciências naturais. Desse modo, num trecho<br />

caracterizado primordialmente pelo antropocentrismo e depois de testar algumas<br />

de suas noções sobre física, conclui com a visão de que tem a obrigação de<br />

provar aos outros o que sua ciência tem <strong>para</strong> oferecer à espécie humana.<br />

Elas me fizeram ver que é possível chegar a conhecimentos que<br />

sejam úteis à vida, e que, em lugar dessa filosofia especulativa<br />

que se ensina nas escolas, se pode encontrar uma filosofia prática,<br />

pela qual, conhecendo a força e as ações do fogo, da água,<br />

do ar, dos astros, dos céus e de todos os outros corpos que nos<br />

cercam, tão distintamente como conhecemos os diversos misteres<br />

de nossos artífices, poderíamos empregá-los da mesma<br />

maneira em todos os usos <strong>para</strong> os quais são adequados, e assim<br />

tornar-nos como que senhores e possuidores da natureza (Ibid., p.<br />

79, ênfase acrescida).<br />

A crítica feita por Descartes à tradição, tanto escolástica quanto à tradição<br />

em geral, dá origem à noção do antropocentrismo extremista no seio do pensamento<br />

científico moderno. O desenvolvimento das ciências pós-cartesianas tem<br />

sido marcadamente determinado por essa mudança. Como proposto por Descartes,<br />

o método científico não permite qualquer noção de intervenção ética nem política.<br />

Seu uso em relação à natureza não pode ser mais do que puramente utilitário.<br />

Dentro dos parâmetros propostos por tais métodos científicos, torna-se impossível<br />

qualquer distinção de lugar. Lugar, como já se observou, perde sua significação. A<br />

própria noção de lugar torna-se uma abstração (REHMANN-SUTTER, 998).<br />

Tal passo consiste, portanto, no que pretendo identificar como a mudança crucial<br />

no sentido da “desvalorização do lugar” na ciência moderna. Significativamente, isto<br />

ocorreu contemporaneamente à argumentação de Galileu de que os objetos do conhecimento<br />

deveriam ser despidos de suas qualidades.<br />

O pensamento cartesiano também contém em seus propósitos lógicos um ataque<br />

à tradição. Propõe que não se procure a verdade na cultura e na tradição, mas nas<br />

idéias que existem “naturalmente” em si próprio. Em suas palavras: “Para tal efeito,<br />

senão unicamente Deus, que o criou, nem retirá-las de outra parte, exceto de certas<br />

sementes de verdades que existem naturalmente em nossas almas” (Ibid., p. 8 ). Entre-<br />

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