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Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

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dela, ou seja, devido ao medo da consciência. Nessa segunda situação, as más intenções<br />

são igualadas às más ações, e daí surgem sentimentos de culpa e necessidade de punição.<br />

A agressividade da consciência continua a agressividade da autoridade. Até aqui, sem dúvida,<br />

as coisas são claras; mas onde é que isso deixa lugar <strong>para</strong> a influência reforçadora do<br />

infortúnio (da renúncia imposta de fora) e <strong>para</strong> a extraordinária severidade da consciência<br />

nas pessoas melhores e mais dóceis? Já explicamos estas particularidades da consciência,<br />

mas provavelmente ainda temos a impressão de que essas explicações não atingem o<br />

fundo da questão e deixam ainda inexplicado um resíduo. Aqui, por fim, surge uma idéia<br />

que pertence inteiramente à psicanálise, sendo estranha ao modo comum de pensar das<br />

pessoas. Essa idéia é de um tipo que nos capacita a compreender por que o tema geral<br />

estava fadado a nos parecer confuso e obscuro, pois nos diz que, de início, a consciência<br />

(ou, de modo mais correto, a ansiedade que depois se torna consciência) é, na verdade, a<br />

causa da renúncia instintiva, mas que, posteriormente, o relacionamento se inverte. Toda<br />

renúncia ao instinto torna-se agora uma fonte dinâmica de consciência, e cada nova renúncia<br />

aumenta a severidade e a intolerância desta última. Se pudéssemos colocar isso<br />

mais em harmonia com o que já sabemos sobre a história da origem da consciência, ficaríamos<br />

tentados a defender a afirmativa <strong>para</strong>doxal de que a consciência é o resultado da<br />

renúncia instintiva, ou que a renúncia instintiva (imposta a nós de fora) cria a consciência,<br />

a qual, então, exige mais renúncias instintivas.<br />

A contradição entre essa afirmativa e o que anteriormente dissemos sobre a gênese<br />

da consciência não é, na realidade, tão grande, e vemos uma maneira de reduzi-la ainda<br />

mais. A fim de facilitar nossa exposição, tomemos como exemplo o instinto agressivo e<br />

suponhamos que a renúncia em estudo seja sempre uma renúncia à agressão. (Isso, naturalmente,<br />

só deve ser tomado como uma suposição temporária.) O efeito da renúncia<br />

instintiva sobre a consciência, então, é que cada agressão de cuja satisfação o indivíduo<br />

desiste é assumida pelo superego e aumenta a agressividade deste (contra o ego). Isso<br />

não se harmoniza bem com o ponto de vista segundo o qual a agressividade original da<br />

consciência é uma continuação da severidade da autoridade externa, não tendo, portanto,<br />

nada a ver com a renúncia. Mas a discrepância se anulará se postularmos uma derivação<br />

diferente <strong>para</strong> essa primeira instalação da agressividade do superego. É provável que, na<br />

criança, se tenha desenvolvido uma quantidade considerável de agressividade contra a<br />

autoridade, que a impede de ter suas primeiras – e, também, mais importantes – satisfações,<br />

não importando o tipo de privação instintiva que dela possa ser exigida. Ela, porém,<br />

é obrigada a renunciar à satisfação dessa agressividade vingativa, e encontra saída <strong>para</strong><br />

essa situação economicamente difícil com o auxílio de mecanismos familiares. Através<br />

da identificação, incorpora a si a autoridade inatacável. Esta transforma-se então em seu<br />

superego, entrando na pose de toda a agressividade que a criança gostaria de exercer<br />

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