Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
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não descansará enquanto a razão não existir e funcionar por virtude de seu próprio<br />
poder. Ele afirma: “Mas o que mais me satisfazia nesse método era o fato de que,<br />
por ele, estava seguro de usar em tudo minha razão, se não perfeitamente, pelo menos<br />
da melhor forma que eu pudesse.” (Ibid., p. 47). Numa práxis cartesiana, havia<br />
uma constante necessidade de permanecer vigilante, de forma que nenhum resíduo<br />
de tradição pudesse manchar os processos da razão. Desse modo, ele explica a si<br />
mesmo: “[...] desenraizando de meu espírito todas as más opiniões que nele se aninharam<br />
até essa época quanto acumulando muitas experiências, <strong>para</strong> servirem mais<br />
tarde de matéria <strong>para</strong> meus raciocínios, e exercitando-me sempre no método que<br />
me prescrevera, a fim de me firmar nele cada vez mais.” (Ibid., p. 47).<br />
Descartes busca construir um conhecimento inteiramente novo. Com isto em<br />
mente, passa a eliminar toda a filosofia escolástica. Mas nesta crítica ele vai além,<br />
propondo minar e apagar a validade do bom senso. Em suas palavras:<br />
E, como ao demolir uma casa velha, reservam-se geralmente os<br />
escombros <strong>para</strong> servir à construção de outra nova, do mesmo<br />
modo, ao destruir todas as minhas opiniões, que julgava malfundadas,<br />
fazia diversas observações e adquiria muitas experiências,<br />
que posteriormente me serviriam <strong>para</strong> fundamentar outras<br />
mais certas (Ibid., p.53).<br />
Na Parte IV do Discurso do Método, e após delimitar os preceitos de sua moralidade<br />
provisória, Descartes dirige-se ao ataque de ainda outro aspecto da tradição<br />
– os sentidos. É importante aqui lembrarmos que na filosofia medieval nada chegava<br />
ao intelecto sem antes ser processado pelos sentidos. O pensamento cartesiano<br />
passa a mudar esse estado de coisas radicalmente:<br />
Há muito observara que, quanto aos costumes, é necessário às<br />
vezes seguir opiniões – que sabemos ser muito erradas – tal<br />
como se fossem indubitáveis, como já foi dito acima; mas, por<br />
desejar então ocupar-me somente com a pesquisa da verdade,<br />
pensei que seria necessário agir exatamente ao contrário, e rejeitar<br />
como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse<br />
imaginar a menor dúvida, a fim de ver se, após isso, não restaria<br />
algo em meu crédito que fosse inteiramente indubitável. Assim,<br />
porque os nossos sentidos nos enganam às vezes, quis supor que<br />
não havia coisa alguma que fosse tal como eles nos fazem imaginar.<br />
E, por haver homens que se equivocam mesmo em seus<br />
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