Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
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tância que existe no interior de todos eles. Então, cada realidade individual é<br />
uma manifestação deste Todo, que se individualiza e se concretiza em unidades<br />
autônomas, como os homens, os animais e o meio <strong>ambiente</strong>. Daí se deduz que<br />
todos os seres estão intimamente interligados, embora cada um mantenha sua<br />
dignidade de realidade singular na plenitude de sua especificidade.<br />
Isto significa que não é correto falar em supremacia do homem sobre o<br />
meio <strong>ambiente</strong>. Ambos constituem uma unidade, de forma que a saúde de um<br />
depende da do outro. E mais, “se uma parte do Todo se anulasse, tudo se aniquilaria”<br />
(FERREIRA, 997, p. 535).<br />
Tampouco é justificável que o homem imponha e generalize os seus valores,<br />
inevitavelmente particulares. Este procedimento é abusivo e falso. Os valores<br />
éticos devem ser pensados globalmente, baseando-se em toda a natureza.<br />
Em síntese, é este sentido da parte com o Todo que torna Espinosa tão próximo<br />
dos problemas ecológicos contemporâneos, explicando por que seu pensamento<br />
tem sido usado como “fundamentação da ética <strong>ambiental</strong>” 3 (Ibid., p. 534).<br />
2) Sobre o homem, já foi destacada acima a sua íntima união ao Todo,<br />
e que, conseqüentemente, ele não é a causa nem o centro do mundo, mas faz<br />
parte de uma rede composta de infinitas outras coisas que estabelecem, entre<br />
si, necessidades, causalidades e implicações, que o afetam direta ou indiretamente.<br />
Dessa integração do homem à Natureza e da correspondente concepção<br />
de que ambos são de uma mesma substância, decorrem duas idéias. Uma, que o<br />
homem é energia e movimento dirigidos à obtenção da felicidade, tendo, portanto,<br />
no desejo de liberdade a essência de sua vida. Outra, que ele é perfeição<br />
e, assim, não pode conter a destruição de si mesmo, e que nenhum poder negativo<br />
entra na sua constituição. Ao contrário, o homem tem em si a potência de<br />
se manter no mesmo estado ou elevar-se a uma melhor força de existir. A esse<br />
esforço existencial <strong>para</strong> se preservar, Espinosa designa de conatus, indicando<br />
que todos somos sempre conscientes dele, qualquer que seja o nível de consciência<br />
e de lucidez em que nos situemos (Ética III, proposição VII). Então, a<br />
redução ou o bloqueio do conatus só pode vir de fora, da maneira como a liberdade<br />
de existir de cada um é afetada nos encontros com outros corpos.<br />
Quando o homem sente que aumenta a sua potência (liberdade) de existir,<br />
é afetado por sentimentos de alegria; se essa capacidade é reprimida, ele<br />
3 Ver bibliografia sobre a temática nessa mesma obra de Ferreira (1997:534), nota de rodapé.<br />
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