Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
constituindo-se na base de sua proposta de reforma moral e intelectual da sociedade<br />
e de seu projeto do sujeito virtuoso, em Emílio. Como nos aponta Hermann,<br />
a natureza <strong>para</strong> Rousseau não é nem um conceito místico, tampouco mecânico,<br />
como na física contemporânea, mas uma unidade pré-empírica que age autonomamente,<br />
uma unidade perfeita, anterior à sociedade, que, projetada sobre a<br />
criança, torna possível pensar a <strong>educação</strong> virtuosa. Em oposição ao pensamento<br />
iluminista de seu tempo, Rousseau questiona a relação entre ciência e virtude,<br />
opondo-se à idéia de progresso que domina seu século. Para Rousseau, seguindo<br />
as palavras de Hermann: “o homem está ‘junto com’ e ‘na’ natureza e mantém <strong>para</strong><br />
com ela um sentimento subjetivo, que lhe permite preservá-la, ao mesmo tempo<br />
em que faz um distanciamento <strong>para</strong> construir sua liberdade”. Assim, Rousseau<br />
oferece muitos dos argumentos que serão revisitados pela <strong>educação</strong> <strong>ambiental</strong> e<br />
seu projeto de formação de um sujeito virtuoso que toma contemporaneamente a<br />
forma de um sujeito ecológico.<br />
Valério Rohden, em Kant: o ser humano entre natureza e liberdade, analisa<br />
a contribuição de Kant <strong>para</strong> a Educação Ambiental. Kant é o principal mentor do<br />
Iluminismo do séc. XVIII. Cunhou o famoso lema “Ousa pensar”, ou seja, faça o<br />
uso autônomo de teu entendimento, sem o auxílio de outrem. Kant escreveu três<br />
grandes críticas: a Crítica da Razão Pura (1781), a Crítica da Razão Prática (1788)<br />
e a Crítica do Juízo (1790). Esta terceira crítica, principalmente, tem profundas<br />
implicações <strong>para</strong> a Ética Ambiental e a Educação Ambiental. Nela, Kant afirma<br />
que há duas espécies de juízos reflexivos: 1) os juízos de gosto; 2) os juízos teleológicos<br />
voltados, principalmente, <strong>para</strong> organismos biológicos. Os dois juízos – de<br />
gosto e teleológico – são importantes <strong>para</strong> a Educação Ambiental, pois ambos são<br />
animados pelo sentimento de vida. Este sentimento é responsável pelos sentimentos<br />
do prazer ou desprazer. Toda a Crítica do Juízo está “centrada no princípio de<br />
vida como idéia articuladora de um organismo”. A Crítica do Juízo é fundamental<br />
<strong>para</strong> compreendermos como podemos chegar a uma apreciação estética da natureza<br />
e é justamente através do juízo do gosto, diz Valério Rohden, que os seres<br />
humanos aprendem a “amar a natureza e a vida e, portanto, a cuidar dela”. Através<br />
do prazer estético o ser humano sente-se bem no mundo e isso faz com que<br />
ele cuide da natureza. O texto de Valério Rohden é importante no contexto da <strong>educação</strong><br />
<strong>ambiental</strong> brasileira. Afinal, temos visto que o valor econômico do <strong>ambiente</strong><br />
quase sempre se impõe sobre outros valores, como, por exemplo, o estético. Uma<br />
apreciação estética e moral da natureza descentra o eixo econômico como único<br />
valor de “apreciação” da natureza.<br />
1