Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
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Porém, se o homem é um ser político, com o poder da fala, do discurso, durante<br />
as guerras e revoluções este poder é aniquilado: tudo e todos são silenciados. Em função<br />
do silêncio que é inerente à violência, isto é, do fato de que o discurso é impotente<br />
quando confrontado com a violência, ela é um fenômeno marginal no domínio da<br />
política. A violência em si é incapaz de gerar um discurso; devido a esta ausência do<br />
discurso, a teoria política teria muito pouco a dizer sobre o fenômeno da violência,<br />
segundo Arendt. A justificativa da violência é, assim, antipolítica. Neste sentido, ainda<br />
que a violência seja central nas guerras e revoluções, <strong>para</strong> Arendt ambas ocorrem fora<br />
do domínio do político, apesar de seu enorme papel na história. Isso significa dizer<br />
que o domínio da política não ocorre, necessariamente, em todos os lugares ou eventos<br />
onde os homens vivem juntos, isto é, nem todas as ações humanas são políticas.<br />
Surge aí um problema, quando se trata de revoluções, afinal todas elas estão<br />
ligadas à questão social, à transformação política do real. Revoluções não são<br />
meras mudanças, insurreições, guerras civis, golpes de estado – ainda que todos<br />
estes fenômenos tenham em comum com as revoluções a presença da violência. São<br />
transformações radicais da sociedade em nome da liberdade, que dão origem a uma<br />
nova e diferente forma de governo, trazendo a formação de um novo corpo político.<br />
Mas são marcadas pelo “pecado original” da violência, muitas vezes justificada como<br />
algo inerente aos assuntos humanos, presente desde o começo da humanidade. Pois,<br />
como reconhece a autora, a violência é, em certas circunstâncias, o único modo de<br />
reequilibrar as balanças da justiça. Assim, as revoluções são eventos políticos que<br />
nos levam, necessariamente, à questão das origens, do começo, pensando na sua<br />
relação com a violência.<br />
Como tal, as revoluções são fenômenos que só começam a existir a partir da<br />
era moderna, com as revoluções dos séculos XVII e XVIII. É só então que a causa<br />
da liberdade política universal passa a existir – a idéia de liberdade política <strong>para</strong> todos<br />
inexistia no Antigo Regime, e mesmo na Antigüidade. Na Grécia antiga, consideravase<br />
que a desigualdade entre os homens era natural, ou seja, os homens não nasciam<br />
iguais, e era a Polis que garantia a igualdade entre os cidadãos. Para os gregos, os<br />
homens livres – os cidadãos – necessitavam da presença dos outros cidadãos <strong>para</strong><br />
exercer sua liberdade; a Polis, ou cidade-estado, era o local onde os cidadãos se reuniam<br />
e exerciam sua liberdade política, através do debate, da participação de todos.<br />
Esta liberdade, porém, só existia entre pares; era extremamente restrita, e a maioria da<br />
população (vale lembrar: mulheres, escravos, despossuídos) não era considerada parte<br />
do grupo dos cidadãos, e portanto era excluída da vida política, da participação em<br />
assuntos públicos. Já que por natureza os homens não eram iguais, era necessária uma<br />
instituição artificial, a polis, que tornaria alguns deles – os cidadãos – iguais.<br />
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