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Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

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Por estas características, o esforço de dialogar com estes pensadores é uma<br />

provocação e um convite <strong>para</strong> nos de<strong>para</strong>rmos com nossos hábitos e automatismos<br />

de pensamento, e com isso, quem sabe, abrir caminho <strong>para</strong> um pensamento mais<br />

livre e mais aberto <strong>para</strong> repensar a relação do homem contemporâneo com o Universo,<br />

e seu lugar neste todo.<br />

Mas por isso mesmo, entrar em contato com os pensadores pré-socráticos é<br />

fazer a experiência do fracasso de toda tentativa de enquadrá-los em nossos esquemas<br />

e classificações habituais; é ter de se dispor a pensá-los <strong>para</strong> além de qualquer<br />

utilidade, mesmo que esta utilidade seja a de um engajamento numa causa militante<br />

das mais nobres. Para ouvir o que eles têm a nos dizer é necessário saber acolhê-los<br />

em sua fala oracular, uma fala que, à maneira da própria physis, só se dá a conhecer<br />

na medida em que se retrai, uma linguagem cujo dizer nos lembra perenemente<br />

que: “A morada (ethos) do homem é o extraordinário” (HERÁCLITO, fr. 89).<br />

O diálogo com pensadores como Anaximandro, Heráclito, Parmênides, Empédocles<br />

pode nos remeter a uma experiência (contida na origem de nossa trajetória<br />

ocidental), na qual a sabedoria não reside em ter muitas informações, mas em manter-se<br />

em sintonia com a lei que dá origem, anima e permeia a physis, a sabedoria de<br />

reconhecer na multiplicidade de manifestações do real, a Unidade profunda de todas<br />

as coisas. Esta unidade é, por sua vez, dinâmica: não exclui, mas inclui, o movimento,<br />

o múltiplo, o diverso; inclui o ser humano, que precisa aprender a pôr-se a escuta<br />

do Cosmos e de seus sinais, encontrando o comum acorde que vibra na totalidade<br />

do real. Para nós, habitantes de um mundo no qual tanto a natureza como um todo<br />

quanto o próprio ser humano foram reduzidos à condição de objetos cujo único<br />

valor está no lucro que podem produzir, o pensamento pré-socrático convida a um<br />

repensar de nossa identidade enquanto humanos e de nosso lugar no universo.<br />

Na harmonia de tensões opostas (Heráclito), no jogo cósmico do Amor e da<br />

Discórdia (Empédocles), na tensão de Ser e Aparecer (Parmênides), há a possibilidade<br />

de um outro caminho <strong>para</strong> o Ocidente. Que este caminho não tenha sido<br />

tomado, é um fato. Mas a própria existência, nas raízes de nosso pensamento, deste<br />

outro possível, coloca-nos algumas questões: que a história de nossa civilização é a<br />

história de uma busca, mas também a de um certo desvio? Que este caminho ainda<br />

possa ser trilhado? Que trazemos a força destas origens e a mensagem que ela contém,<br />

inscritas de alguma maneira em nós mesmos?<br />

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