Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
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freudiana (pulsão de morte), minimizando a significação de outras (princípio do<br />
prazer) e substituindo outras (sustentação de uma ética natural). Puxadas pela teorização<br />
winnicottiana, as grandes descobertas de Freud, livres dos entulhos fisicalistas<br />
e cientificistas tomadas do <strong>para</strong>digma moderno, se expandem e se articulam. Emerge<br />
assim uma outra compreensão da natureza e das relações dos homens com ela. A<br />
insistência de Winnicott na criatividade primária, sua concepção da fantasia como<br />
sendo anterior à realidade, permite não apenas ultrapassar a fatalidade do determinismo<br />
como pensar uma outra relação com a natureza, na qual o desenvolvimento<br />
das capacidades humanas não se torne sinônimo de destruição, mas privilegie não a<br />
dominação, mas a integração e o pertencimento.<br />
No que tange à concepção sobre a natureza, incluindo a natureza humana,<br />
e às relações da atividade humana com ela, a leitura winnicottiana sustenta uma<br />
concepção que denominarei de vitalista, prolongando o movimento teórico freudiano<br />
neste sentido e superando, ao mesmo tempo, suas limitações e contradições. O<br />
conceito de vitalismo designa uma perspectiva teórica, na qual a questão da complexidade<br />
da vida e de sua dinâmica ocupa um lugar central. A perspectiva vitalista,<br />
na qual a Natureza é pensada como um ser vivo e complexo, foi completamente<br />
excluída pela perspectiva tornada hegemônica na modernidade, que, como se viu,<br />
equi<strong>para</strong>va a natureza a uma máquina, reduzindo seu dinamismo à causalidade eficiente.<br />
Com a formulação da segunda teoria pulsional, a teoria freudiana incorpora,<br />
sem dúvida, uma perspectiva vitalista. Contudo, esse dinamismo foi pensado por<br />
Freud no interior da concepção forjada pela modernidade, ficando desse modo prisioneira<br />
de um férreo determinismo. É com efeito na física moderna que Freud<br />
encontrou inspiração <strong>para</strong> pensar seu segundo dualismo pulsional. Este não seria<br />
senão a aplicação, no registro do psiquismo, de uma lei geral da natureza que no<br />
mundo da matéria se exprimiria através do princípio de atração e repulsão. Da<br />
mesma maneira, o movimento regressivo da pulsão de morte, na sua tendência de<br />
retorno ao inorgânico, seria análogo ao que a física moderna descrevera como princípio<br />
da entropia. Assim, o afastamento da concepção da natureza como máquina<br />
não é suficiente <strong>para</strong> atingir uma concepção da natureza como um ser vivo, capaz<br />
de automodificação e autopoïesis.<br />
O vitalismo winnicottiano se insere numa perspectiva completamente diferente.<br />
O autor inglês adota explicitamente a perspectiva vitalista (Winnicott, 2000,<br />
303). Seu pano de fundo é uma concepção da natureza totalmente alheia à metáfora<br />
maquínica e do determinismo, e associada à idéia de criação. Muito antes da<br />
feliz formulação de Edgard Morin, Winnicott pensou a relação da cultura com a<br />
natureza em termos que se afastam tanto da disjunção quanto da redução. O vita-<br />
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