Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
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na, de felicidade ou infelicidade 7 . É verdade que, tanto neste texto como nos outros<br />
nos quais Freud trabalha com o princípio de prazer, a inspiração inicial vinculada a<br />
processos de carga/descarga é tornada mais complexa, acentuando as características<br />
de “intensidade” das sensações e sentimentos de prazer ou da ausência de dor, no<br />
caso do desprazer. Todavia, este princípio não possui – pela sua inspiração fisicalista<br />
– a capacidade de apreender teoricamente a complexidade das questões relacionadas<br />
aos sentimentos humanos – e portanto à felicidade ou infelicidade –, indissociáveis<br />
dos avatares dos relacionamentos intersubjetivos. Como ainda terei oportunidade de<br />
assinalar, esta perspectiva não faz justiça à riqueza e complexidade da compreensão<br />
do psiquismo humano elaborada pelo próprio Freud.<br />
A questão da felicidade humana será abordada na seqüência do texto desde<br />
uma perspectiva muito mais rica, na medida em que centrada na afetividade humana,<br />
cujo primado na constituição e funcionamento da subjetividade tinha sido<br />
afirmada, pelo próprio Freud, num texto anterior ao que aqui comentamos (Freud,<br />
926). Entretanto, dita abordagem, sustentada no segundo dualismo pulsional, ficou<br />
presa à perspectiva determinista dominante no <strong>para</strong>digma moderno. A terceira<br />
fonte de sofrimento – as relações entre os homens – se sustenta na postulação<br />
da existência de “um bloco de natureza inconquistável desta vez... a nossa própria<br />
constituição psíquica”. Trata-se das pulsões elementares – Eros e pulsão de morte<br />
– pensadas por Freud como princípios cósmicos que agem em todos os homens<br />
independentemente dos avatares da história 8 . Este determinismo rigoroso sustenta<br />
na ótica freudiana a inevitabilidade do mal-estar cultural, provocado pelo inevitável<br />
e crescente sentimento de culpa que resulta da expansão e confronto também inevitáveis<br />
das duas pulsões elementares. 9 Partindo de premissas individualistas, Freud<br />
opõe, nas páginas finais deste texto, duas aspirações: a de atingir a felicidade, que<br />
denomina de egoísta, e a de se reunir com outros homens, denominada de altruísta.<br />
Curiosa diferenciação na pena do homem que, ao longo de seu prolongado trabalho<br />
7 O recurso ao princípio de prazer, como ferramenta teórica, não invalida as teorizações freudianas que dela<br />
se utilizam. A situação poderia ser com<strong>para</strong>da à utilização de uma faca de cozinha <strong>para</strong> realizar uma delicada<br />
cirurgia. O empreendimento não é impossível, e em ausência de outro instrumental mais adequado<br />
pode mesmo ser aconselhável. Isto não diminui, entretanto, o fato de que se trata de uma ferramenta tosca<br />
e inadequada ao objetivo procurado.<br />
8 A segunda teoria pulsional se sustenta no caráter universalmente regressivo das pulsões (isto é, sua natureza<br />
conservadora), aplicação específica da teoria da entropia formulada pela física moderna na segunda parte<br />
do séc. XIX. Não escapou ao agudo discernimento de Freud que a postulação do caráter universalmente<br />
regressivo das pulsões colidia abertamente com a tendência de Eros a uma expansão incessante. Esta<br />
contradição frontal, que atinge o cerne da teoria da universalidade da regressividade pulsional, é anotada<br />
por Freud numa nota de pé de página e deixada <strong>para</strong> “posteriores pesquisas” (Freud, 1930, 141).<br />
9 Freud acreditava que, no seu impulso de unir toda a humanidade, Eros tendia <strong>para</strong> uma expansão ilimitada,<br />
o mesmo acontecendo com a pulsão de morte, gerando assim um sentimento de culpa crescente, fonte do<br />
mal-estar cultural. Esta expansão de Eros, todavia, não se verificou, sendo possível perceber hoje, tanto na<br />
experiência clínica quanto na vida social, o crescimento de uma atitude de indiferença face ao outro.<br />
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