11.06.2013 Views

Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A afirmação da existência de um instinto de morte ou de destruição deparou-se<br />

com resistências, inclusive em círculos analíticos; estou ciente de que existe, antes, uma<br />

inclinação freqüente a atribuir o que é perigoso e hostil no amor a uma bipolaridade original<br />

de sua própria natureza. A princípio, foi apenas experimentalmente que apresentei<br />

as opiniões aqui desenvolvidas, mas, com o decorrer do tempo, elas conseguiram tal poder<br />

sobre mim, que não posso mais pensar de outra maneira.<br />

(págs. 46, 47, 48)<br />

Outra questão nos interessa mais de perto. Quais os meios que a civilização utiliza<br />

<strong>para</strong> inibir a agressividade que se lhe opõe, torná-la inócua ou, talvez, livrar-se dela? Já<br />

nos familiarizamos com alguns desses métodos, mas ainda não com aquele que parece<br />

ser o mais importante. Podemos estudá-lo na história do desenvolvimento do indivíduo.<br />

O que acontece neste <strong>para</strong> tornar inofensivo seu desejo de agressão? Algo notável, que<br />

jamais teríamos adivinhado e que, não obstante, é bastante óbvio. Sua agressividade é<br />

introjetada, internalizada; ela é, na realidade, enviada de volta <strong>para</strong> o lugar de onde proveio,<br />

isto é, dirigida no sentido de seu próprio ego. Aí, é assumida por uma parte do ego,<br />

que se coloca contra o resto do ego, como superego, e que então, sob a forma de “consciência”,<br />

está pronta <strong>para</strong> pôr em ação contra o ego a mesma agressividade rude que o<br />

ego teria gostado de satisfazer sobre outros indivíduos a ele estranhos. A tensão entre o<br />

severo superego e o ego, que a ele se acha sujeito, é por nós chamada de sentimento de<br />

culpa; expressa-se como uma necessidade de punição. A civilização, portanto, consegue<br />

dominar o poderoso desejo de agressão do indivíduo, enfraquecendo-o, desarmando-o<br />

e estabelecendo no seu interior um agente <strong>para</strong> cuidar dele, como uma guarnição numa<br />

cidade conquistada.<br />

Quanto à origem do sentimento de culpa, as opiniões do analista diferem das dos<br />

outros psicólogos, embora também ele não ache fácil descrevê-lo. Inicialmente, se perguntamos<br />

como uma pessoa vem a ter sentimentos de culpa, chegaremos a uma resposta indiscutível:<br />

uma pessoa sente-se culpada (os devotos diriam “pecadora”) quando fez algo que<br />

sabe ser “mau”. Re<strong>para</strong>mos, porém, em quão pouco essa resposta nos diz. Talvez, após certa<br />

hesitação, acrescentemos que, mesmo quando a pessoa não fez realmente uma coisa má,<br />

mas apenas identificou em si uma intenção de fazê-la, ela pode encarar-se como culpada.<br />

Surge então a questão de saber por que a intenção é considerada equivalente ao ato. Ambos<br />

os casos, contudo, pressupõem que já se tenha reconhecido que o que é mau é repreensível,<br />

é algo que não deve ser feito. Como se chega a esse julgamento? Podemos rejeitar a existência<br />

de uma capacidade original, por assim dizer natural, de distinguir o bom do mau. O que<br />

é mau, freqüentemente, não é de modo algum o que é prejudicial ou perigoso ao ego; pelo<br />

151

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!