Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
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Rousseau:<br />
o retorno à<br />
natureza<br />
Nadja Hermann*<br />
[...] a superfície da terra elevava minhas idéias a todos os seres da<br />
natureza, ao sistema universal das coisas, ao ser incompreensível<br />
que abarca tudo. Então, com o espírito perdido nessa imensidão, eu<br />
não pensava, não raciocinava, não filosofava mais; me sentia com<br />
um tipo de voluptuosidade, oprimido pela força desse universo, me<br />
abandonava com encantamento à confusão dessas grandes idéias;<br />
gostava de me perder em imaginação no espaço; meu coração<br />
confinado nos limites dos seres, se encontrava ali muito apertado,<br />
me sufocava no universo e queria me lançar ao infinito.<br />
Desse modo apaixonado, quase em êxtase, Jean-Jacques Rousseau ( 7 2-<br />
778) relata, com notável talento literário, na Carta a Malesherbes, de 26<br />
de janeiro de 762 2 , o sentimento de unidade do homem com a natureza.<br />
Em diversas de suas obras, tanto nas Cartas, como em Os devaneios<br />
do caminhante solitário e em Emílio ou da <strong>educação</strong>, o filósofo descreve o sentimento<br />
de inebriamento e paz que a natureza lhe proporciona, “a ponto de me fundir, por<br />
assim dizer, no conjunto dos seres, de me identificar com a natureza inteira” 3 .<br />
* Filósofa, doutora em Filosofia da Educação, professora do Programa de Pós-Gradução da Pontifícia Universidade<br />
Católica do Rio Grande do Sul.<br />
1 ROUSSEAU, J.J. Lettres philosophiques, p. 90.<br />
2 Chrétien Malesherbes foi diretor de censura e também protetor de diversos intelectuais como Diderot e<br />
Rousseau. Na carta que Rousseau lhe escreve, o filósofo explicita as razões que o levaram a recolher-se no<br />
campo nos últimos anos de sua vida.<br />
3 ROUSSEAU, J.J. Os devaneios do caminhante solitário, p. 95.