11.06.2013 Views

Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

provém que na Natureza se origine tanta coisa imperfeita, designadamente, a alteração<br />

que chega ao mau cheiro, a fealdade que dá náuseas, a confusão, o mal, o pecado etc.?<br />

Como disse há pouco, a refutação é fácil. Pois que a perfeição das coisas deve<br />

ser avaliada em consideração somente da natureza e da capacidade que elas têm, daí se<br />

segue que as coisas não são mais ou menos perfeitas por agradarem ou desagradarem<br />

aos sentidos de cada um, por favorecerem ou contrariarem a natureza humana. Aos que<br />

perguntam por que motivo não criou Deus todos os homens de modo tal que se conduzissem<br />

somente pela norma da Razão, responderei apenas isto: não lhe faltou matéria<br />

<strong>para</strong> criar todas as coisas, desde o grau mais alto ao mais infinito da perfeição, ou, <strong>para</strong><br />

falar com mais propriedade, porque as leis da natureza de Deus foram assaz amplas <strong>para</strong><br />

bastarem à produção de tudo o que pode ser concebido por um entendimento infinito,<br />

como demonstrei na proposição 6.<br />

São estes os prejuízos de que aqui pretendi dar nota. Se ainda restarem alguns da<br />

mesma farinha, quem quer poderá corrigi-los com um pouco de reflexão.<br />

Ética III<br />

Da origem e da natureza das afecções<br />

A maior parte daqueles que escreveram sobre as afecções e a maneira de viver dos<br />

homens parece ter tratado, não de coisas naturais que seguem as leis comuns da Natureza,<br />

mas de coisas que estão fora da Natureza. Mais ainda, parecem conceber o homem na<br />

Natureza como um império num império. Julgam, com efeito, que o homem perturba a<br />

ordem da Natureza mais que a segue, que ele tem sobre os seus atos um poder absoluto e<br />

apenas tira de si mesmo a sua determinação. Procuram, portanto, a causa da impotência e<br />

da inconstância humana, não na potência comum da Natureza, mas não sei em que vício<br />

da natureza humana, e, por essa razão, lamentam-na, riem-se dela, desprezam-na, ou, o<br />

que acontece mais freqüentemente, detestam-na; e aquele que mais eloqüentemente ou<br />

mais sutilmente souber censurar a impotência da alma humana é tido por divino. É certo<br />

que não têm faltado homens eminentes (ao trabalho e ao talento dos quais confessamos<br />

dever muito) <strong>para</strong> escrever muitas coisas sobre a reta conduta da vida e dar aos mortais<br />

conselhos cheios de prudência. Mas ninguém, que eu saiba, determinou a natureza e as<br />

forças das afecções e, inversamente, o que pode a alma <strong>para</strong> as orientar. Sei, na verdade,<br />

que o celebrérrimo Descartes, embora acreditasse que a alma tinha, sobre as suas ações,<br />

um poder absoluto, tentou, todavia, explicar as afecções humanas pelas suas causas primeiras<br />

e demonstrar, ao mesmo tempo, o caminho pelo qual a alma pode adquirir um<br />

89

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!